Dias atrás encontrei um amigo que
sempre quis ser artista e que tem persistido bravamente nessa busca. Ele já
trabalhou no comércio e bem resumiu a sua vocação profissional ao alegar que
não se enxergava mais em atividade que não tivesse a ver com o meio artístico.
Deixou claro que na nossa região o desafio é ainda maior, diante da escassez de
cursos de formação e de oportunidades profissionais. Mas também deu a entender
que continuará investindo no seu ideal e enfatizou que com um pouco de
criatividade será possível deflagrar projetos prazerosos e que lhe garantam
renda. O importante é que não se fechou numa atividade específica dentro da
citada área.
É muito bacana conversar com
pessoas profissionalmente convictas. Tem muita gente que utiliza positivamente
as redes sociais para declarar a sua paixão pela profissão. Isso pode ajudar
outras pessoas a definirem os próximos passos.
Sempre sustentei, nas falas
dirigidas aos jovens, que a escolha por uma profissão deve levar em conta,
primeiramente, o grau de satisfação que ela possa proporcionar. É importante
que o trabalho garanta a subsistência própria e da família, mas a remuneração
não pode ser o principal fator a influenciar quem tenciona ingressar no ensino
superior ou mesmo prestar concurso público.
É compreensível que muitos
estudantes que concluem o ensino médio tenham dúvidas sobre o futuro. Essa
insegurança é própria da faixa etária. A escolha antecipada e acertada da área
de formação é excepcional. Eu mesmo não estava certo do que queria quando
ingressei na graduação. Aliás, a condição financeira não permitia muitas
escolhas. Sequer tinha conhecimento detalhado do que era o Direito. Ninguém na
família exercia profissão jurídica. Não havia testes vocacionais e nem mesmo a
rede mundial de computadores para buscar informações. A opção foi “um tiro no
escuro”. Tive sorte. Mas nem sempre é assim...
Alguns anos depois da minha
formatura em Direito, encontrei uma colega de faculdade que compartilhou
subsequente graduação em Pedagogia. Ela enfatizou que tinha muito prazer em
lecionar e que se sentia realizada por ter tido coragem de deixar a atividade
jurídica e migrar para o magistério. Outras pessoas conhecidas fizeram a mesma
“troca” e parecem não ter se arrependido.
Observo que essa busca pela
satisfação profissional é o que move pessoas ao magistério e à atividade
policial. São atividades quase sempre injustamente remuneradas, mas que,
acredito, sempre serão procuradas. A exigência de sólida vocação gera um elo
muito forte entre as profissões e os profissionais.
Vários ex-alunos do Direito se
iniciaram em atividades jurídicas e vários outros prosseguiram nas mesmas que
já exerciam. Isso sempre vai acontecer, pois atuar na área de formação exige
esforço, mas também a cooperação de outros fatores. Permanecer fora dela não
significa, por si só, demérito. Estamos sujeitos a mudanças de entendimento. E
que bom que é assim...
O que todo estudante tem de
evitar é prosseguir naquele curso que lhe foi imposto ou que nunca lhe trouxe
ou deixou de lhe trazer vibração. O trancamento da matrícula para reflexão pode
ser uma boa decisão.
Há casos de profissionais que se
iniciaram em profissões que, na prática, não significam exatamente o que
cogitavam. Às vezes, algumas situações específicas podem motivar a busca por
mudanças. Eu mesmo me identifiquei muito com a atividade policial que
desempenhei por mais de nove anos, mas não me conformava em ficar de sobreaviso
vinte e quatro horas por dia. Esse foi um dos fatores determinantes para que eu
tivesse resolvido retomar os estudos.
Qualquer que seja o seu momento
(fase de escolha da graduação; faculdade em andamento ou no exercício
profissional), lembre-se de que nunca é tarde para reformular ideias e se jogar
de cabeça em um novo projeto. Afinal, a vida é uma só e se apresenta sempre
repleta de desafios, cabendo a nós, por meio de atos de coragem, torná-la mais
agradável de ser vivida. Sempre vale muito a pena...
Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de Direito
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(publicado na Revista Comunica de
julho de 2016)