A iminência da conclusão de curso superior gera
ansiedade. O estudante estipula metas, faz mil planos, pesquisa cursos de
capacitação, pensa em estudar fora, fazer carreira, decolar, não importando a
que preço. Às vezes acha que o curso de longe é melhor do que o de perto (o que
nem sempre é verdade) e se submete a um verdadeiro calvário. Via de regra,
nessa fase ainda não está casado, não tem filhos, não tem grandes compromissos,
o que favorece a sua “entrega” à formação e ao trabalho.
Acontece que essa “busca”, para alguns, acaba se
prolongando pela vida toda, de forma desarrazoada, o que não vejo com bons
olhos, mesmo sendo um grande incentivador de todos os que procuram prosperar.
Não estou a afirmar que existe um momento certo para se
acomodar com aquilo que se produziu na seara profissional. É sempre salutar
almejar melhoria da qualidade de vida, renda e condições de trabalho mais
dignas. Mas às vezes a busca acaba se tornando uma obsessão que distancia a
pessoa de outros valores igualmente importantes e não raramente a faz adoecer.
É aí que mora o perigo!
O grande desafio da nossa vida se resume na palavra “equilíbrio”.
Na prática, as pessoas enfrentam muitas dificuldades e “se perdem”. Afinal, as
cobranças são muitas para sejamos bons pais, bons esposos, bons profissionais,
bons amigos, estejamos atualizados, destinemos a devida atenção aos que nos
cercam, para que cuidemos da nossa saúde, tenhamos hábitos saudáveis,
pratiquemos esportes, cultivemos nossa fé e tenhamos energia física e mental
suficientes para tudo isso...
No que tange à formação e ao trabalho, devemos estar
sempre atentos para que a busca desmedida pela especialização, pelo perfeccionismo
e principalmente pelo dinheiro não nos distancie da família, dos filhos, dos
bons amigos, da boa saúde, dos valores morais e da crença que nos revigora.
Às vezes nos espelhamos em supostos ícones de
determinadas carreiras porque se destacaram profissionalmente, mas não temos
noção de que por trás daquele profissional supostamente vencedor se esconde um
pai ou um marido frustrado, um indivíduo adoecido ou uma pessoa que não
vivenciou situações que não terá mais condições de vivenciar, como, por ex., a
infância dos filhos. A imprensa normalmente não mostra e/ou não conhece esse
lado “sombrio” das vidas das chamadas “celebridades”. Ou simplesmente temos
notícia disso, mas acabamos ignorando.
É preciso sempre refletir sobre aquilo que realmente
interessa na vida e privilegiar a família, constitucionalmente apontada, não à
toa, como a base da sociedade. Vejo todos os dias que a entidade familiar tem
sido gravemente atingida pelo fato de as pessoas não estarem se atentando para
o seu significado. De nada adianta ser um renomado profissional se para isso a
família tiver de ficar em segundo plano ou se esfacelar pela falta de limites. Teoricamente,
todos sabem disso, mas não raramente as pessoas insistem em não enxergar que o
problema está se avolumando e, quando despertam, já é tarde...
O segredo é tentar conciliar as coisas e eleger
prioridades. Em alguns casos não, mas muitas vezes temos escolha sobre o que
devemos fazer. Será que aquela promoção que você tanto deseja realmente lhe
fará bem? Será que ter de se mudar para longe dos seus entes queridos não
afetará sobremaneira as vidas de vocês? Aquele dinheiro a mais realmente
ajudará? Está fazendo falta? Você precisa mesmo dobrar o seu expediente de
trabalho? Necessita realmente de adiar a aposentadoria para não “perder” algum
dinheiro ou ganhará em qualidade de vida? São imprescindíveis inúmeros cursos,
ainda que malfeitos por conta da falta de tempo e do cansaço? Não perdeu o
foco? A vida de quem você se espelha é de fato boa nos aspectos mais
importantes? Tem conseguido dizer “não” para as propostas menos importantes
e/ou que atingem o tempo que você precisaria dedicar a outra prioridade? Está
vendo o tempo passar? Um aconselhamento profissional ou de quem você confia não
seria interessante? Já não passou da hora de buscar apoio? A vaidade excessiva
não está lhe dominando? Não está iludido você a respeito das prioridades?
Há uma expressão popular que diz que o pato anda, nada e
voa, mas não faz nada direito. Pense bem...
Adriano
Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de
Direito / Professor do Curso de Direito do Unisalesiano
www.direitoilustrado.blogspot.com
(publicado na Revista Comunica de maio/2013)