Tempos atrás eu ouvi alguém reclamar
do barulho que os farofeiros fazem quando chegam à praia e até do espaço [público]
que ocupam! Muitos têm uma visão preconceituosa dessas pessoas que tanto podem nos
ensinar.
Segundo o Dicionário Aurélio,
farofeiro é aquele que não reside no litoral, mas o frequenta, levando consigo
aquilo que vai consumir.
O que para uma parte das pessoas
significa dificuldade, para o farofeiro é sinônimo de diversão. Ele se acomoda
em qualquer lugar, pois procura ver o lado positivo do passeio. Tem entusiasmo
e autoestima. Não fica lamuriando e nem se comparando ao outro. Não finge ser
aquilo que não é. Não está preocupado em ostentar uma condição que não possui. Procura
ser feliz com o que tem. É realista. É autêntico. Em vez de se preocupar com o
congestionamento, diverte-se com aqueles com os quais se espreme num carro
normalmente mais antigo e sem ar condicionado. Não se sujeita aos preços
abusivos ao transportar o que vai consumir. Fica imune de riscos quando come só
aquilo que ele mesmo preparou. Vive intensamente cada momento. Tem mais
facilidade para se desligar dos compromissos e preocupações. Não se prende
apenas ao trabalho. É criativo para contornar as dificuldades.Tem disposição de
sobra para buscar a felicidade nas coisas simples da vida. É organizado e
dedica parte do tempo para planejar os passeios futuros. Tem facilidade de
conviver em grupo e, consequentemente, de aceitar as diferenças.Congrega
crianças e idosos; reúne a família. Não tem vergonha do que é e não liga para
“padrões fabricados”.E o que é mais importante: não fica preocupado com o que
estão pensando dele e não se abate com a inveja e com as críticas de um ou outro
que, mesmo mais abastado, não consegue se realizar na mesma medida e talvez por
isso o critique.
O farofeiro faz tudo isso, com raras
exceções, sem prejudicar ninguém, muito embora a sua postura por vezes aborreça
alguns. Aliás, não é tão difícil assim encontrar pessoas que se incomodam com a
alegria de outras, o que é de se lamentar...
Mas o que isso tem a ver com a nossa
vida pessoal, familiar e profissional? É simples: temos de nos espelhar mais
nos farofeiros.
Não devemos nos frustrar porque não
temos aquele bem de consumo que os meios de comunicação insistem que somos
obrigados a possuir. Talvez ele não seja tão indispensável quanto pareça. Não
precisamos protelar bons momentos da vida, pois sempre haverá alguma atividade
física, profissional ou de lazer que será compatível com a nossa faixa etária,
com a nossa condição física e socioeconômica e com a nossa disponibilidade de
tempo. Precisamos ter em mente que até para se divertir a gente também cansa e
tem de superar algumas dificuldades (juntar dinheiro; planejar; se deslocar;
improvisar; aceitar o jeito do outro; reagir bem aos imprevistos; adaptar-se
aos hábitos e horários das crianças etc.).
O farofeiro às vezes faz barulho?
Então façamos “barulho” também! Deixemos o marasmo de lado!
Que tal tentar aceitar mais as
diferenças, ampliar a tolerância, ter mais flexibilidade para trabalhar em
grupo? Enxergar mais as oportunidades para ser feliz que estão ao seu alcance e
ser grato a elas? Deixar as lamentações de lado e parar de achar que só você
tem problemas ou que seus problemas são sempre maiores do que os dos outros?
Sorrir mais? Dedicar mais tempo para você? Cuidar mais da sua saúde física e
mental? Fazer mais do que tem feito no seu curso ou no seu trabalho? Oferecer
mais ajuda e se interessarmais pelos outros? Parar de ficar pensando que determinada
tarefa incumbe ao outro e não a você? Colocar em prática o que você mais
discursa do que faz?
Ter disposição para resolver as
coisas da vida e conduzi-la da melhor forma é questão de treino da postura
mental. Alguns têm tendência a desanimar e pode ser necessária ajuda
profissional. Outros realmente enfrentam dificuldades que temporariamente abalam.
Viver é realmente um desafio. Mas se não é possível que tudo dê certo o tempo
todo, pelo menos que a gente tente enxergar o lado bom de cada situação e nos
aprimorar com cada tropeço!
Adriano
Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz
de Direito / Professor no Unisalesiano
www.direitoilustrado.blogspot.com
(texto
publicado na Revista Comunica – edição de novembro/2013)