Costumo dizer que puxa-saco comigo
não tem vez. Um elogio ao chefe vez ou outra é bem-vindo se sincero,
despretensioso e comedido. Mas subordinado pegajoso...
O puxa-saco está tão presente em
todos os lugares que Brasil afora são os sinônimos previstos no Dicionário
Aurélio, alguns bastante curiosos: “2.
Aquele que bajula; adulador, adulão, aduloso, babão, baba-ovo, banhista,
cafofa, chaleira, chaleirista, cheira-cheira, chupa-caldo, corta-jaca,
engrossador, enxuga-gelo, escova-botas, incensador, lambedor, lambe-botas,
lambe-cu, lambe-esporas, lambeta, lambeteiro, louvaminheiro, puxa-saco ou
puxa-sacos, sabujo, xeleléu, xereta”.
Pela minha maneira de interagir com
subordinados e de tentar valorizá-los por meio de critérios outros, até hoje
não tive tantas experiências desagradáveis com bajuladores, mas, com o
propósito de induzir reflexão, resolvi citar uma em especial.
Durante algum tempo Aparecida (nome
fictício) atuou no meu setor. Tudo o que ela fazia, muito embora nada fora do rol
de suas atribuições, precisava me mostrar que tinha feito. Depois de algum
tempo foi ficando difícil conviver com ela. Aparecida sempre procurava deixar
para fazer o seu trabalho quando eu estava presente, de modo que eu pudesse
vê-la atuando. E enquanto cumpria seu papel, ficava me interrompendo e
ressaltando os resultados. Às vezes eu estava em outro setor ou por alguma
outra razão ausente da repartição e Aparecida, mesmo depois terminar seu
trabalho, fazia questão de, com a minha chegada, retornar à minha sala e discorrer
sobre as tarefas realizadas.
Queria tanto agradar e se
autopromover que se tornava enfadonha... Com a nítida intenção de tentar ser
melhor do que outros (cujo desempenho,na prática,me agradava mais do que o dela),
não me dava tempo suficiente para avaliar criteriosamente o seu trabalho e
eventualmente elogiá-la. Mais do que isso, provocou o nosso distanciamento,
pois passei a evitá-la.Já nem conseguia enxergar seus pontos positivos. Afinal,
no ambiente de trabalho a gente quer pessoas prestativas, de bom trato, mas
também discretas, humildes e com espírito de equipe.
O subordinado precisa entender que o
processo de reconhecimento profissional depende de vários fatores. Às vezes o
superior hierárquico não tem tanta habilidade para fazer isso; outras vezes não
se atenta suficientemente para o que acontece à sua volta, e noutros casos o
reconhecimento esbarra nessas duas causas. Há maneiras sutis de solucionar essa
dificuldade sem que a pessoa precise se tornar inoportuna, inconveniente,
baba-ovo.
O fato é que o superior, na maioria
das vezes, sabe quem é quem no seu ambiente de trabalho. Repara na
produtividade, na postura, no interesse e na competência. Ocorre que,
infelizmente, nem sempre manifesta seu contentamento. É preciso que se expresse
não só nos momentos de insatisfação, mas reconheça sempre o valor dos seus
colaboradores. Isso pode ser treinado diariamente.
Esse reconhecimento profissional,
para o bem de todos, deve decorrer da fidelidade do subordinado, do seu
comprometimento e da consideração de fatores como a ética e também a conduta
pessoal. O verdadeiro parceiro é aquele que privilegia a cooperação em
detrimento da competição.
Na maciça maioria dos casos é a
competência e a não a bajulação que determina promoções e outras oportunidades
no ambiente de trabalho. O chefe que elege pela bajulação é injusto com os
competentes e ilude o eleito. Perde a oportunidade de orientá-lo para que se
aperfeiçoe. E pode estar colocando a empresa em risco.
Aquele que se serve da bajulação
para progredir pode estar maquiando deficiências profissionais e de
personalidade. Os chefes devem estar atentos!
Quando o bajulador consegue alguma
coisa somente por conta do puxa-saquismo, isso fica muito nítido aos olhos de
todos. Ele (e por vezes também o chefe) vira motivo de piadas. Os nomes
estampados no dicionário deixam isso bem claro. E a conquistado bajulador costuma
ser sempre provisória. Não raramente dura até que o chefe desavisado deixe seu
posto e o sucessor monte outra equipe.
Ao contrário, o colaborador
eficiente pode até demorar um pouco mais para ser reconhecido, mas constrói a
sua carreira sobre um rígido alicerce. Geralmente acaba se tornando quase queunanimidade
no local de trabalho. É mantido quando a chefia se altera. Adquire cargo,
salário, conforto, mas, sobretudo, respeito, consideração e liderança. Torna-se
um exemplo de que vale a pena se esforçar e perseverar; conquistar pelo mérito.
E se sente verdadeiramente realizado pelo reconhecimento profissional, além de
seguro com a maior estabilidade.
Sugiro, portanto, que você, que é
bajulador, pense em investir o tempo na construção de uma carreira efetivamente
sólida; e que você,que é chefe, destine a cada integrante da sua equipe o valor
que ele realmente merece, depois de analisar quem realmente faz bem ao seu
setor ou à sua empresa. Não é difícil o bajulador recorrer a outras artimanhas
capazes de prejudicar o próximo para se sobressair... Essa sua postura não pode
ser alimentada de forma alguma. É preciso mostrar a ele que não é e nem será a
“última bolacha do pacote”.
E quanto à Aparecida, desejo que ela
seja muito feliz onde estiver atuando. Certamente o seu modo de agir agradará
alguém, pois não faltarásuperior hierárquico que gostará de ter o ego
massageado; portador de visão distorcida a respeito do tema que me propus a enfrentar.
Adriano
Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz
de Direito em Penápolis(SP)
Prof.
no Unisalesiano
(redigido
para a edição de dezembro/2013 da Revista Comunica)