Muita calma nessa hora...
O ano se inicia e muita gente vai debutar no exercício de
uma nova profissão ou mesmo ser promovido na área em que já atuava, tudo em
razão da conclusão de determinado curso superior ou profissionalizante.
É perfeitamente natural que a iminência de assumir maior
responsabilidade gere muitas incertezas e preocupações que, não raramente, ofuscam
o êxtase decorrente da formatura, da promoção, do reconhecimento profissional e
do aumento de salário.
A principal dica para os “iniciantes” é sempre manter um
bom nível de conhecimento.
Os cursos superiores e profissionalizantes oferecem
informações valiosas e, via de regra, contam com professores experientes e
capacitados, mas isso não basta. Os cursos são esquematizados levando em conta
as diferenças de capacidade, desenvoltura, interesse e disponibilidade dos
alunos. Notadamente nos cursos noturnos, não há condições de aprofundar
demasiadamente os temas, inclusive, pela falta de tempo.
É imprescindível constante aprimoramento teórico e
prático para que se possa encarar com mais segurança o mercado de trabalho e se
proteger das armadilhas e da responsabilidade civil e criminal. O profissional
bem preparado teme (ou “treme”) menos e, em conseqüência, erra menos.
Não há nada mais embaraçoso do que ser questionado sobre
aquilo que não se conhece bem e que se deveria conhecer, não é mesmo? O profissional
deve ser curioso (perguntar sobre trabalho aos mais experientes não ofende), se
cercar de informações mais amplas sobre determinado tema e não apenas aquelas
que serão, por exemplo, tratadas numa reunião. Deve questionar métodos que
aprendeu em estágios e não se deixar contaminar por posturas comodistas de
profissionais já “cansados” e/ou desatualizados.
Voltando a falar da insegurança, é preciso assinalar que atinge
a todos. Quando assumi meu primeiro plantão como Delegado de Polícia no 32º
Distrito Policial, no (felizmente) corintiano bairro de Itaquera, muito embora
tivesse estudado muito para ser aprovado no concurso, recorria bastante aos
livros e roteiros que eu mesmo fazia para solucionar problemas. Achava-me
impotente, mas a verdade é que essa pesquisa deve ser constante, pois a memória
sempre nos trai. Informações elementares acabam sendo esquecidas por conta do
nervosismo, da pressa, de preocupações externas e de inúmeros outros fatores. Ficava
tenso com o tipo de ocorrência que poderia chegar e com a maneira como reagiria
ao diálogo com os policiais. O interessante é que muitas vezes o policial que
adentrava ao recinto também estava inseguro justamente porque falaria com o
Delegado e não sabia que informações seriam solicitadas etc.
A história se repetiu quando me tornei Magistrado.
Trabalhando em Varas paulistanas, apesar de já experiente no serviço público e
do conhecimento acumulado, ficava preocupado quando Advogados “de cabelos
grisalhos” pediam para falar comigo. Isso tinha a ver com a impressão
equivocada que eu tinha: a de que deveria saber tudo e responder a qualquer
indagação prontamente. Isso não é possível, pois ninguém consegue dominar todos
os assuntos e conhecer todas as situações. O Advogado chegava para falar de um
processo que ele já tinha decorado e que eu, no primeiro dia naquela Vara,
nunca tinha visto. Mas na verdade eu não deveria ter me preocupado, pois
bastava ouvir o que o profissional tinha a dizer e responder que analisaria com
carinho suas ponderações, depois de me inteirar do caso. Faltava-me justamente
o conhecimento do andamento do processo e, em alguns casos, revisitar a teoria,
mas isso era justificável no contexto. Mas também não faltaram situações nas
quais Advogados aparentavam insegurança ao falar comigo também porque não
tinham estudado o caso e/ou não sabiam a respeito do que poderiam ser
interpelados ou de que maneira seriam tratados.
Como se vê, a insegurança, em maior ou menor escala,
acompanhará sempre iniciantes e experientes. Somente com o tempo passará a ser
bem administrada. O aprimoramento e a dedicação constantes, a calma, a
humildade e a consciência de que sempre haverá algo novo a aprender certamente
contribuirão para que as dificuldades cotidianas sejam compreendidas e superadas
com mais facilidade.
Adriano
Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de
Direito da 2ª Vara de Penápolis(SP)
Professor do Curso de
Direito do Unisalesiano, “Campus” Lins(SP)
(publicado no Correio de Lins de 6/2/2013)