Quem sou eu

Juiz de Direito desde 2007. Titular do Juizado Especial Cível de Lins(SP). Ex-Professor do Curso de Direito do Unisalesiano em Lins(SP). Ex-delegado de polícia. Motociclista, tatuado e corintiano do "bando de loucos".

10 de fev. de 2013

Muita calma nessa hora...

Muita calma nessa hora...
            O ano se inicia e muita gente vai debutar no exercício de uma nova profissão ou mesmo ser promovido na área em que já atuava, tudo em razão da conclusão de determinado curso superior ou profissionalizante.
            É perfeitamente natural que a iminência de assumir maior responsabilidade gere muitas incertezas e preocupações que, não raramente, ofuscam o êxtase decorrente da formatura, da promoção, do reconhecimento profissional e do aumento de salário.
            A principal dica para os “iniciantes” é sempre manter um bom nível de conhecimento.
            Os cursos superiores e profissionalizantes oferecem informações valiosas e, via de regra, contam com professores experientes e capacitados, mas isso não basta. Os cursos são esquematizados levando em conta as diferenças de capacidade, desenvoltura, interesse e disponibilidade dos alunos. Notadamente nos cursos noturnos, não há condições de aprofundar demasiadamente os temas, inclusive, pela falta de tempo.
            É imprescindível constante aprimoramento teórico e prático para que se possa encarar com mais segurança o mercado de trabalho e se proteger das armadilhas e da responsabilidade civil e criminal. O profissional bem preparado teme (ou “treme”) menos e, em conseqüência, erra menos.
            Não há nada mais embaraçoso do que ser questionado sobre aquilo que não se conhece bem e que se deveria conhecer, não é mesmo? O profissional deve ser curioso (perguntar sobre trabalho aos mais experientes não ofende), se cercar de informações mais amplas sobre determinado tema e não apenas aquelas que serão, por exemplo, tratadas numa reunião. Deve questionar métodos que aprendeu em estágios e não se deixar contaminar por posturas comodistas de profissionais já “cansados” e/ou desatualizados.
            Voltando a falar da insegurança, é preciso assinalar que atinge a todos. Quando assumi meu primeiro plantão como Delegado de Polícia no 32º Distrito Policial, no (felizmente) corintiano bairro de Itaquera, muito embora tivesse estudado muito para ser aprovado no concurso, recorria bastante aos livros e roteiros que eu mesmo fazia para solucionar problemas. Achava-me impotente, mas a verdade é que essa pesquisa deve ser constante, pois a memória sempre nos trai. Informações elementares acabam sendo esquecidas por conta do nervosismo, da pressa, de preocupações externas e de inúmeros outros fatores. Ficava tenso com o tipo de ocorrência que poderia chegar e com a maneira como reagiria ao diálogo com os policiais. O interessante é que muitas vezes o policial que adentrava ao recinto também estava inseguro justamente porque falaria com o Delegado e não sabia que informações seriam solicitadas etc.
            A história se repetiu quando me tornei Magistrado. Trabalhando em Varas paulistanas, apesar de já experiente no serviço público e do conhecimento acumulado, ficava preocupado quando Advogados “de cabelos grisalhos” pediam para falar comigo. Isso tinha a ver com a impressão equivocada que eu tinha: a de que deveria saber tudo e responder a qualquer indagação prontamente. Isso não é possível, pois ninguém consegue dominar todos os assuntos e conhecer todas as situações. O Advogado chegava para falar de um processo que ele já tinha decorado e que eu, no primeiro dia naquela Vara, nunca tinha visto. Mas na verdade eu não deveria ter me preocupado, pois bastava ouvir o que o profissional tinha a dizer e responder que analisaria com carinho suas ponderações, depois de me inteirar do caso. Faltava-me justamente o conhecimento do andamento do processo e, em alguns casos, revisitar a teoria, mas isso era justificável no contexto. Mas também não faltaram situações nas quais Advogados aparentavam insegurança ao falar comigo também porque não tinham estudado o caso e/ou não sabiam a respeito do que poderiam ser interpelados ou de que maneira seriam tratados.
            Como se vê, a insegurança, em maior ou menor escala, acompanhará sempre iniciantes e experientes. Somente com o tempo passará a ser bem administrada. O aprimoramento e a dedicação constantes, a calma, a humildade e a consciência de que sempre haverá algo novo a aprender certamente contribuirão para que as dificuldades cotidianas sejam compreendidas e superadas com mais facilidade.
Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de Direito da 2ª Vara de Penápolis(SP)
Professor do Curso de Direito do Unisalesiano, “Campus” Lins(SP)
(publicado no Correio de Lins de 6/2/2013)