O
aperfeiçoamento do ensino superior sempre foi um assunto muito debatido e
polêmico. Os desafios são enormes. Muito se fala sobre metodologia e outros
temas relacionados...
Não
se discute que todos almejam um ensino de qualidade. As instituições estão sempre
preocupadas com a preservação do seu conceito perante a comunidade e os órgãos
públicos que as fiscalizam. Tentam motivar os professores ao aperfeiçoamento
constante e oferecer cursos condizentes com as exigências do mercado de
trabalho. Acontece que nem sempre estão dispostas a investirem o suficiente ou
nem sempre têm condições para tanto. O que se sabe é que concedem muitas bolsas
de estudos, seja por exigência do Ministério da Educação (MEC), seja pela necessidade
de facilitar matrículas. O elevado índice de inadimplência às vezes compromete
a arrecadação e, em consequência, mais investimentos. Nem sempre conseguem, por
ex., auxiliar o docente nas despesas relacionadas à pós-graduação ou à
participação em cursos e congressos que favoreceriam a sua pontuação junto ao
MEC...
O
professor, em consequência, muitas vezes protela a pós por conta dos gastos
inerentes. Viagens, hospedagens, alimentação e materiais didáticos costumam
comprometer consideravelmente o orçamento do docente, que, como contrapartida,
depois de concluir mestrado ou doutorado, fica satisfeito, eleva a sua
autoestima, tem condições de oferecer mais aos alunos, mas acrescenta poucos
reais à hora-aula, ou seja, demora bastante para recuperar ou sequer recupera o
investimento. Por essa razão, muitos não se aventuram... Mas não é só por isso:
o mestrado e o doutorado exigem sobremaneira (trabalhos, seminários,
fichamentos, pesquisas, domínio de outras línguas, distância da família, falta
de tempo para lazer, estresse etc.).
No
magistério superior há alguns anos, cheguei a algumas conclusões, é claro, sem
qualquer pretensão de esgotar o assunto e sempre respeitando opiniões
contrárias.
O
uso do “power point” facilita o trabalho do docente que leciona disciplinas com
muitos termos técnicos e que precisa comentar imagens. Nos demais casos, penso
que o projetor pode gerar acomodação para o aluno, especialmente se for ter acesso
à apostila das telas projetadas. O equipamento pode intensificar o sono, especialmente
se a iluminação da sala for reduzida. E o professor pode acabar se rendendo à
mera leitura dos “slides”, atitude que nenhuma platéia merece. Por isso, sou
bastante favorável ao uso do quadro para a orientação da classe.
Os
alunos sonham com cursos “fortes”, mas nem sempre conseguem acompanhar o ritmo
do docente que se propõe a inovar demais, notadamente os que estudam à noite e
trabalham durante o dia e/ou já constituíram famílias. Às vezes a rotina é tão
“cronometrada” que elaborar um trabalho ou preparar um seminário pode
significar um verdadeiro tormento para o aluno. O objetivo acaba não sendo
atingido, pois realizar atividades apenas para “cumprir tabela”, sem motivação,
não gera aprendizado. “Comprar” trabalho pronto, muito menos... Alguns acabam
sendo encomendados (pagos) porque o aluno não é capaz, não tem disposição e/ou
não tem tempo. E certos alunos, quando o trabalho deve ser feito em grupo, não
cooperam suficientemente nem com a elaboração, nem com a apresentação. Nem
sempre a classe absorve o conhecimento porque quem expõe nem sempre é encarado com
confiabilidade ou com a devida atenção. Por fim, se o professor não tem tempo
ou disposição para dar o devido “feedback”, ou seja, corrigir detalhadamente
cada trabalho, é melhor que não adote a cobrança.
Não
conheço método de avaliação cem por cento eficaz. As questões de múltipla
escolha facilitam a correção por parte do professor, mas, na minha opinião, por
favorecerem os “chutes”, são as avaliam com menor precisão. As questões dissertativas
são mais apropriadas, pois durante a correção o professor terá certeza se o
aluno conhecia a resposta. Auxiliam no desenvolvimento da escrita. Aliás, é
necessário investir bastante no treinamento da redação. O bom profissional tem de
saber escrever e interpretar. Tem de ter bom poder de síntese, objetividade,
motivo pelo qual prefiro estabelecer espaço limitado para as respostas.
Infelizmente muita gente ingressa no mercado de trabalho com bastante
deficiência nesse quesito. E se “escrever” for ferramenta principal, como é o
caso dos profissionais do Direito, as perspectivas serão ruins...
O
professor deve ter cautela ao adotar livros porque muitos alunos não terão
condições de adquiri-los e acabarão se desdobrando para fazê-lo unicamente pela
indicação do mestre. Além disso, pode ser que o livro já esteja desatualizado
quando o aluno for ingressar no mercado de trabalho. É preciso evitar grandes
aquisições na fase da graduação a fim de que o investimento aconteça no início
do exercício da profissão. Por isso sempre incentivei um caderno bem anotado,
que certamente servirá como preciosa fonte de consulta, mesmo depois da
formatura, especialmente nas vésperas de concursos, quando o candidato precisará
de material resumido e confiável.
Adriano
Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de
Direito / Professor no Unisalesiano
(publicado
no Diário de Penápolis de 22/10/2014 e no Correio de Lins de 24/10/20014)