Quem sou eu

Juiz de Direito desde 2007. Titular do Juizado Especial Cível de Lins(SP). Ex-Professor do Curso de Direito do Unisalesiano em Lins(SP). Ex-delegado de polícia. Motociclista, tatuado e corintiano do "bando de loucos".

2 de jun. de 2013

Tudo tem limites!

            A iminência da conclusão de curso superior gera ansiedade. O estudante estipula metas, faz mil planos, pesquisa cursos de capacitação, pensa em estudar fora, fazer carreira, decolar, não importando a que preço. Às vezes acha que o curso de longe é melhor do que o de perto (o que nem sempre é verdade) e se submete a um verdadeiro calvário. Via de regra, nessa fase ainda não está casado, não tem filhos, não tem grandes compromissos, o que favorece a sua “entrega” à formação e ao trabalho.
            Acontece que essa “busca”, para alguns, acaba se prolongando pela vida toda, de forma desarrazoada, o que não vejo com bons olhos, mesmo sendo um grande incentivador de todos os que procuram prosperar.
            Não estou a afirmar que existe um momento certo para se acomodar com aquilo que se produziu na seara profissional. É sempre salutar almejar melhoria da qualidade de vida, renda e condições de trabalho mais dignas. Mas às vezes a busca acaba se tornando uma obsessão que distancia a pessoa de outros valores igualmente importantes e não raramente a faz adoecer. É aí que mora o perigo!
            O grande desafio da nossa vida se resume na palavra “equilíbrio”. Na prática, as pessoas enfrentam muitas dificuldades e “se perdem”. Afinal, as cobranças são muitas para sejamos bons pais, bons esposos, bons profissionais, bons amigos, estejamos atualizados, destinemos a devida atenção aos que nos cercam, para que cuidemos da nossa saúde, tenhamos hábitos saudáveis, pratiquemos esportes, cultivemos nossa fé e tenhamos energia física e mental suficientes para tudo isso...
            No que tange à formação e ao trabalho, devemos estar sempre atentos para que a busca desmedida pela especialização, pelo perfeccionismo e principalmente pelo dinheiro não nos distancie da família, dos filhos, dos bons amigos, da boa saúde, dos valores morais e da crença que nos revigora.
            Às vezes nos espelhamos em supostos ícones de determinadas carreiras porque se destacaram profissionalmente, mas não temos noção de que por trás daquele profissional supostamente vencedor se esconde um pai ou um marido frustrado, um indivíduo adoecido ou uma pessoa que não vivenciou situações que não terá mais condições de vivenciar, como, por ex., a infância dos filhos. A imprensa normalmente não mostra e/ou não conhece esse lado “sombrio” das vidas das chamadas “celebridades”. Ou simplesmente temos notícia disso, mas acabamos ignorando.
            É preciso sempre refletir sobre aquilo que realmente interessa na vida e privilegiar a família, constitucionalmente apontada, não à toa, como a base da sociedade. Vejo todos os dias que a entidade familiar tem sido gravemente atingida pelo fato de as pessoas não estarem se atentando para o seu significado. De nada adianta ser um renomado profissional se para isso a família tiver de ficar em segundo plano ou se esfacelar pela falta de limites. Teoricamente, todos sabem disso, mas não raramente as pessoas insistem em não enxergar que o problema está se avolumando e, quando despertam, já é tarde...
            O segredo é tentar conciliar as coisas e eleger prioridades. Em alguns casos não, mas muitas vezes temos escolha sobre o que devemos fazer. Será que aquela promoção que você tanto deseja realmente lhe fará bem? Será que ter de se mudar para longe dos seus entes queridos não afetará sobremaneira as vidas de vocês? Aquele dinheiro a mais realmente ajudará? Está fazendo falta? Você precisa mesmo dobrar o seu expediente de trabalho? Necessita realmente de adiar a aposentadoria para não “perder” algum dinheiro ou ganhará em qualidade de vida? São imprescindíveis inúmeros cursos, ainda que malfeitos por conta da falta de tempo e do cansaço? Não perdeu o foco? A vida de quem você se espelha é de fato boa nos aspectos mais importantes? Tem conseguido dizer “não” para as propostas menos importantes e/ou que atingem o tempo que você precisaria dedicar a outra prioridade? Está vendo o tempo passar? Um aconselhamento profissional ou de quem você confia não seria interessante? Já não passou da hora de buscar apoio? A vaidade excessiva não está lhe dominando? Não está iludido você a respeito das prioridades?
            Há uma expressão popular que diz que o pato anda, nada e voa, mas não faz nada direito. Pense bem...
Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de Direito / Professor do Curso de Direito do Unisalesiano
www.direitoilustrado.blogspot.com
(publicado na Revista Comunica de maio/2013)