Quem sou eu

Juiz de Direito desde 2007. Titular do Juizado Especial Cível de Lins(SP). Ex-Professor do Curso de Direito do Unisalesiano em Lins(SP). Ex-delegado de polícia. Motociclista, tatuado e corintiano do "bando de loucos".

7 de out. de 2013

O perdão como antídoto

            Se a gente despertar para a necessidade de perdoar e de se penitenciar e para os reflexos positivos que esses processos geram nos ambientes familiar, educacional, social e também profissional, teremos muito mais chances de contornar e minimizar dissabores que a vida, muitas vezes de forma desavisada, nos apresentará.


            Digo isso porque sempre haverá quem, por uma razão ou outra, nos decepcionará; assim como não estaremos imunes de, deliberadamente ou não, desapontar o outro. A diferença é que apenas compreendendo os mecanismos da tolerância e do perdão e buscando a sua efetividade é que conseguiremos avançar rumo à plena realização pessoal e profissional.

            O perdão e a penitência são bastante abordados pelas religiões. Conhecida passagem do Evangelho de João (8:3-11) desafia a jogar a primeira pedra aquele que nunca cometeu falta. A “Oração da Serenidade” induz reflexão: “Concedei-nos, Senhor, serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos, e sabedoria para distinguir umas das outras”. A prece de São Francisco de Assis faz questão de ensinar que é melhor perdoar do que ser perdoado, compreender do que ser compreendido... Jó superou várias provações, mas somente depois que demonstrou arrependimento ao Senhor é que recuperou o que lhe foi tirado. Em linhas gerais, as crenças estimulam a indulgência e o exame de consciência e fomentam a reconciliação como forma de harmonização com Deus e consigo mesmo...

            Certa vez eu li que perdoar equivale a lembrar sem sentir dor, e não propriamente a se esquecer o que ocorreu. Afinal, a nossa memória preserva informações, às vezes, pela vida toda (especialmente as experiências dolorosas).

            Qualquer que seja o seu credo, a sua idade, a sua atividade profissional e o meio em que vive, saiba que o seu bem-estar físico e mental, comprovadamente, depende do pedido e da aceitação das desculpas.

            O poder do perdão foi matéria da revista Veja de 28/7/2010. O texto classificou a habilidade para assumir erro e cultivar arrependimento e a desenvoltura para afastar a sensação de injustiça causada por uma ofensa como as “atitudes morais mais nobres e emocionalmente complexas já criadas pela civilização ocidental”. Ressaltou que o perdão é um processo de mão dupla: exige do agressor o arrependimento sincero e do ofendido a disposição para apagar ressentimentos. E enfatizou os benefícios desse processo.

            Matthew, Sheila e Dennis Linn, na obra “Não perdoe cedo demais”, ressaltam a conexão entre o perdão e a saúde ao reputarem-no imprescindível à cura emocional, física e espiritual. Lembram que perdoar não significa tolerar o insulto, mas apenas renunciar à vingança por meio de uma solução criativa para a situação. Elencam cinco estágios do perdão que devem surgir naturalmente, sem que o ofendido precise se violentar: negação (de que se está magoado); raiva (do ofensor); barganha (condicionamento do perdão a uma contrapartida), depressão (admissão da culpa por estar magoado) e aceitação (pelo convencimento do crescimento que o perdão propiciará; de que “a mágoa ajudou você a se integrar, aceitando-se a si próprio, aos outros, ao universo, a Deus”).

            Na seara jurídica, a chamada “justiça restaurativa” consiste basicamente em propiciar aos envolvidos num fato criminoso a oportunidade de refletir sobre o acontecido e minimizar seus efeitos. Evento marcante foi o perdão concedido pelo Papa João Paulo II ao que havia tentado matá-lo...

            Na minha experiência profissional tenho observado, felizmente, crescente disposição para a conciliação. E tenho notado também que muitas vezes ela não acontece não propriamente por resistência do ofendido, mas por influências externas de quem, por razões variadas, pretende se beneficiar com a persistência do conflito. Cito, como exemplos, um parente mal-intencionado ou um advogado interessado em mostrar que é “durão” (como se a composição não fosse um ato de inteligência) ou está iludido em obter indenização acima da média, daquelas que Tribunal algum concede ou mantém.           É por isso que entendo que o ofendido até deve se aconselhar, de preferência, com mais de uma pessoa; mas também que, se estiver propenso ao perdão, venha a privilegiar essa intenção em detrimento de protelar o desfecho. Afinal, quanto mais alimentar o seu rancor, mais sofrerá, pois deixar de perdoar, na prática, ilustrativamente, é como se aquela pessoa de quem você quer mais quer distância o estivesse acompanhando em todos os bons momentos da sua vida; como se estivesse caminhando o tempo todo ao seu lado. O perdão é o antídoto!

Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira

Juiz de Direito da 2ª Vara de Penápolis(SP)

Professor do Unisalesiano

(texto endereçado à edição de outubro de 2013 da Revista Comunica)

Matrículas abertas para o Curso do Sílvio!


            Não existe melhor maneira de se aprender sobre a vida do que falar com que já viveu, não é mesmo? Falo não somente daquele que já colecionou muitos aniversários, mas especialmente do que, além disso, já aproveitou esse tempo para aperfeiçoar a sua forma de agir, de se relacionar e de dividir experiências. Afinal, se a gente chegar aos 90 anos sem aproveitar os bons exemplos, sem a consciência de que sempre há o que aprender e principalmente de que sempre há em quem se espelhar, não teremos “vivido”, mas teremos apenas “existido”.
            Há mais de quatro anos em Penápolis(SP), tenho aprendido muito como Sílvio Augusto Latorre Filipin, Supervisor do 2º Ofício Judicial.
            Como sempre digo que não devemos esperar “datas especiais” para homenagear ninguém, como o Sílvio brevemente se aposentará e como não sei se e quando as circunstâncias da vida me conduzirão para outro lugar, decidi registrar a minha admiração não só para reconhecer os méritos do homenageado, mas para incentivar os demais a se espelharem nele.
            Sempre muito ponderado, respeitoso e compromissado com o trabalho, o Sílvio exerce uma liderança natural. Poucos têm o dom para tanto. Sabe a hora e o jeito de falar e sabe quando é melhor se calar. Tem décadas de conhecimento acumulado, mas é humilde; orienta de igual para igual. Passa segurança. Ensina sobre o trabalho e sobre a vida. Está sempre pronto para ajudar. É discreto, apesar do “vozeirão” que às vezes ecoa cartório adentro. Tenta sempre manter o equilíbrio e o bom humor. O sorriso é a sua marca registrada. Mantém vida pessoal regrada. Dedica-se à família. É grande parceiro e grande incentivador do filho mais novo. Não desespera diante das adversidades. Assim como qualquer um de nós, já enfrentou e enfrenta dificuldades. Mas mesmo com alguns quilinhos a mais, tem muuuuito mais “jogo de cintura” do que a maioria de nós. Conta piadas. Faz e aceita brincadeiras. “Filtra” e soluciona problemas com maestria. Despreza aquilo que pode parecer, mas que verdadeiramente não é um problema. Desfaz “tempestades em copos d’água”. Respeita a natureza. Respeita regras. Quando não está, faz falta.
            Foi observando o Sílvio que encontrei inspiração para o texto “Experiência”, que publiquei na revista universitária “Comunica” de Lins, edição de agosto de 2013. O seu bom senso e a sua ponderação servem de exemplo a todos! Não me referi especificamente a ele, mas à sua experiência.
            Já ouvi algum comentário no sentido de que o Sílvio não dominava muito bem a informática, o que poderia ser um “defeito” dele, mas até nesse quesito ele tem surpreendido. Tenho constatado o seu empenho para manejar o novo e complexo sistema informatizado do Tribunal de Justiça de São Paulo. Quer saber de uma coisa, Sílvio? Você certamente tem algum defeito, muito embora eu particularmente desconheça, mas ainda que você tivesse de trabalhar comigo usando a velha máquina de escrever, mesmo assim eu não abriria mão da sua parceria e da sua experiência.
            Aprendamos todos nós com o Sílvio! As matrículas estão permanentemente abertas e o ensinamento é gratuito, agradável e preciso! Quem não se inscrever certamente se arrependerá!!!
                                                                                   Penápolis(SP), 5 de setembro de 2013.

                                                                                  Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
                                                                                              Juiz de Direito Titular