Digo isso porque sempre haverá quem,
por uma razão ou outra, nos decepcionará; assim como não estaremos imunes de,
deliberadamente ou não, desapontar o outro. A diferença é que apenas
compreendendo os mecanismos da tolerância e do perdão e buscando a sua
efetividade é que conseguiremos avançar rumo à plena realização pessoal e
profissional.
O perdão e a penitência são bastante
abordados pelas religiões. Conhecida passagem do Evangelho de João (8:3-11)
desafia a jogar a primeira pedra aquele que nunca cometeu falta. A “Oração da Serenidade” induz
reflexão: “Concedei-nos, Senhor, serenidade necessária para aceitar as coisas
que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos, e sabedoria
para distinguir umas das outras”. A prece de São Francisco de Assis faz questão
de ensinar que é melhor perdoar do que ser perdoado, compreender do que ser
compreendido... Jó superou várias provações, mas somente depois que demonstrou
arrependimento ao Senhor é que recuperou o que lhe foi tirado. Em linhas
gerais, as crenças estimulam a indulgência e o exame de consciência e fomentam a
reconciliação como forma de harmonização com Deus e consigo mesmo...
Certa vez eu li que perdoar equivale
a lembrar sem sentir dor, e não propriamente a se esquecer o que ocorreu.
Afinal, a nossa memória preserva informações, às vezes, pela vida toda
(especialmente as experiências dolorosas).
Qualquer que seja o seu credo, a sua
idade, a sua atividade profissional e o meio em que vive, saiba que o seu
bem-estar físico e mental, comprovadamente, depende do pedido e da aceitação
das desculpas.
O poder do perdão foi matéria da revista Veja de 28/7/2010. O texto classificou a habilidade para assumir erro e cultivar
arrependimento e a desenvoltura para afastar a sensação de injustiça causada por
uma ofensa como as “atitudes morais mais nobres e emocionalmente complexas já
criadas pela civilização ocidental”. Ressaltou que o perdão é um processo de
mão dupla: exige do agressor o arrependimento sincero e do ofendido a
disposição para apagar ressentimentos. E enfatizou os benefícios desse
processo.
Matthew, Sheila e Dennis Linn, na
obra “Não perdoe cedo demais”, ressaltam a conexão entre o perdão e a saúde ao
reputarem-no imprescindível à cura emocional, física e espiritual. Lembram que
perdoar não significa tolerar o insulto, mas apenas renunciar à vingança por
meio de uma solução criativa para a situação. Elencam cinco estágios do perdão
que devem surgir naturalmente, sem que o ofendido precise se violentar: negação
(de que se está magoado); raiva (do ofensor); barganha (condicionamento do perdão
a uma contrapartida), depressão (admissão da culpa por estar magoado) e aceitação
(pelo convencimento do crescimento que o perdão propiciará; de que “a mágoa
ajudou você a se integrar, aceitando-se a si próprio, aos outros, ao universo,
a Deus”).
Na seara jurídica, a chamada “justiça
restaurativa” consiste basicamente em propiciar aos envolvidos num fato
criminoso a oportunidade de refletir sobre o acontecido e minimizar seus
efeitos. Evento marcante foi o perdão concedido pelo Papa João Paulo II ao que havia
tentado matá-lo...
Na minha experiência profissional
tenho observado, felizmente, crescente disposição para a conciliação. E tenho
notado também que muitas vezes ela não acontece não propriamente por
resistência do ofendido, mas por influências externas de quem, por razões
variadas, pretende se beneficiar com a persistência do conflito. Cito, como
exemplos, um parente mal-intencionado ou um advogado interessado em mostrar que
é “durão” (como se a composição não fosse um ato de inteligência) ou está iludido
em obter indenização acima da média, daquelas que Tribunal algum concede ou
mantém. É por isso que entendo que o
ofendido até deve se aconselhar, de preferência, com mais de uma pessoa; mas
também que, se estiver propenso ao perdão, venha a privilegiar essa intenção em
detrimento de protelar o desfecho. Afinal, quanto mais alimentar o seu rancor,
mais sofrerá, pois deixar de perdoar, na prática, ilustrativamente, é como se aquela
pessoa de quem você quer mais quer distância o estivesse acompanhando em todos
os bons momentos da sua vida; como se estivesse caminhando o tempo todo ao seu
lado. O perdão é o antídoto!
Adriano
Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz
de Direito da 2ª Vara de Penápolis(SP)
Professor
do Unisalesiano
(texto
endereçado à edição de outubro de 2013 da Revista Comunica)