Quem sou eu

Juiz de Direito desde 2007. Titular do Juizado Especial Cível de Lins(SP). Ex-Professor do Curso de Direito do Unisalesiano em Lins(SP). Ex-delegado de polícia. Motociclista, tatuado e corintiano do "bando de loucos".

4 de ago. de 2013

Experiência

            As circunstâncias da vida, boas ou ruins, nos surpreendem todos os dias, exigem decisões, testam nosso raciocínio e nossas emoções.
            Os desafios são grandes tanto na órbita pessoal quanto na profissional.
            A maneira como reagimos tem muito a ver com o nosso estado de espírito, com a educação que tivemos, os valores que cultivamos, as influências do momento, a nossa fé e a nossa capacidade de enfrentamento.
            Via de regra, com o passar do tempo a gente vai aprendendo a ter mais paciência e a canalizar nossos esforços e nossa indignação para aquilo que realmente vale a pena.
            Isso não significa que todo jovem é afoito e inconsequente, nem que aquele que tem cabelos grisalhos está preparado para tudo... A nossa vida é dinâmica e ainda que vivêssemos centenas de anos teríamos sempre o que aprender.
            No âmbito profissional às vezes acontece de aquele pós-doutor em determinada área do conhecimento, equivocadamente, se negar a dar crédito à experiência do subordinado que há anos se dedica ao mesmo ofício. Mas não demora muito para que aquele iniciante com a parede cheia de diplomas e o passaporte repleto de carimbos, ainda que não reconheça expressamente, se renda e se convença da necessidade de valorizar o colega de trabalho que por vezes não concluiu o ensino fundamental, mas é dotado de sabedoria que não se ensina na escola. Ademais, há informações valiosas que são conhecidas no ambiente operacional e que não chegam aos superiores.
            A prática depende da teoria, mas ao mesmo tempo a complementa. À medida que nos dedicamos a determinada atividade, desenvolvemos atalhos para simplificar rotinas e ampliamos a nossa capacidade de prevenir problemas.
            A troca de informações faz com que descobertas sejam compartilhadas e que incidentes sejam evitados. Isso não significa que outros deixarão de surgir, mas o que não se pode negar é que o mesmo diálogo facilitará também a solução de novos entraves.
            Eu sempre costumo dizer que não é possível entrar num supermercado e pedir um quilo e meio de experiência, pois não há outro meio de adquiri-la senão vivenciando as mais variadas situações que a vida nos prepara.
            Ouvindo os mais experientes normalmente acrescentamos sabedoria e serenidade. Aprendemos a maneira e a hora certa de intervir; ou detectamos quando não é o caso de intervir. Passamos a valorizar mais a discrição. Convencemo-nos de que é mais produtivo agir do que falar. Encontramos equilíbrio para lidarmos com críticas que surgirão mesmo que envidemos todos os nossos esforços naquilo que fazemos. Afinal, conforme alguém já escreveu: “eu não sei qual o segredo do sucesso, mas o segredo do fracasso é tentar agradar todo mundo”. Sobretudo, passamos a errar menos e com menos gravidade.
            Penso que a maior contribuição que os experientes podem nos dar é justamente aquela que diz respeito à correta administração das nossas emoções e à contenção do nosso ímpeto. Esse conhecimento é de suma importância, na medida em que precipitações quase sempre surtem consequências danosas à nossa carreira profissional e não raramente refletem negativamente na nossa vida privada e na nossa saúde.
            Não é à toa que grandes empresas contam com conselheiros que podem até não ter mais tanto vigor físico para o trabalho e podem até mesmo não dominar as atuais ferramentas (especialmente a informática), mas cujo campo de visão da vida independe do astigmatismo e da miopia que porventura afetem um de seus sentidos físicos. Não estou a dizer que eles sempre acertam, mas entendo que ouvi-los pode ser importante até mesmo para que posicionamentos sobrevivam a questionamentos e sejam confirmados antes de serem considerados definitivos e gerarem efeitos práticos.
            Será que andamos valorizando suficientemente os mais experientes? Será que o orgulho ou a desatenção não estão implicando na perda de preciosas oportunidades para o nosso aprimoramento profissional e pessoal? Fiquemos, pois, não só “de olhos abertos”, mas tentemos efetivamente “enxergar” de que maneira a presente reflexão poderá nos ajudar e ao mesmo tempo prestigiar quem tem condições de contribuir...
Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de Direito da 2ª Vara de Penápolis(SP)
Professor do Unisalesiano
(publicado na Revista Comunica de agosto/2013)