As circunstâncias da vida, boas ou
ruins, nos surpreendem todos os dias, exigem decisões, testam nosso raciocínio
e nossas emoções.
Os desafios são grandes tanto na
órbita pessoal quanto na profissional.
A maneira como reagimos tem muito a
ver com o nosso estado de espírito, com a educação que tivemos, os valores que
cultivamos, as influências do momento, a nossa fé e a nossa capacidade de enfrentamento.
Via de regra, com o passar do tempo
a gente vai aprendendo a ter mais paciência e a canalizar nossos esforços e
nossa indignação para aquilo que realmente vale a pena.
Isso não significa que todo jovem é
afoito e inconsequente, nem que aquele que tem cabelos grisalhos está preparado
para tudo... A nossa vida é dinâmica e ainda que vivêssemos centenas de anos
teríamos sempre o que aprender.
No âmbito profissional às vezes
acontece de aquele pós-doutor em determinada área do conhecimento,
equivocadamente, se negar a dar crédito à experiência do subordinado que há
anos se dedica ao mesmo ofício. Mas não demora muito para que aquele iniciante
com a parede cheia de diplomas e o passaporte repleto de carimbos, ainda que
não reconheça expressamente, se renda e se convença da necessidade de valorizar
o colega de trabalho que por vezes não concluiu o ensino fundamental, mas é
dotado de sabedoria que não se ensina na escola. Ademais, há informações
valiosas que são conhecidas no ambiente operacional e que não chegam aos
superiores.
A prática depende da teoria, mas ao
mesmo tempo a complementa. À medida que nos dedicamos a determinada atividade,
desenvolvemos atalhos para simplificar rotinas e ampliamos a nossa capacidade
de prevenir problemas.
A troca de informações faz com que
descobertas sejam compartilhadas e que incidentes sejam evitados. Isso não significa
que outros deixarão de surgir, mas o que não se pode negar é que o mesmo diálogo
facilitará também a solução de novos entraves.
Eu sempre costumo dizer que não é
possível entrar num supermercado e pedir um quilo e meio de experiência, pois
não há outro meio de adquiri-la senão vivenciando as mais variadas situações
que a vida nos prepara.
Ouvindo os mais experientes
normalmente acrescentamos sabedoria e serenidade. Aprendemos a maneira e a hora
certa de intervir; ou detectamos quando não é o caso de intervir. Passamos a
valorizar mais a discrição. Convencemo-nos de que é mais produtivo agir do que
falar. Encontramos equilíbrio para lidarmos com críticas que surgirão mesmo que
envidemos todos os nossos esforços naquilo que fazemos. Afinal, conforme alguém
já escreveu: “eu não sei qual o segredo do sucesso, mas o segredo do fracasso é
tentar agradar todo mundo”. Sobretudo, passamos a errar menos e com menos
gravidade.
Penso que a maior contribuição que
os experientes podem nos dar é justamente aquela que diz respeito à correta
administração das nossas emoções e à contenção do nosso ímpeto. Esse
conhecimento é de suma importância, na medida em que precipitações quase sempre
surtem consequências danosas à nossa carreira profissional e não raramente refletem
negativamente na nossa vida privada e na nossa saúde.
Não é à toa que grandes empresas
contam com conselheiros que podem até não ter mais tanto vigor físico para o
trabalho e podem até mesmo não dominar as atuais ferramentas (especialmente a
informática), mas cujo campo de visão da vida independe do astigmatismo e da
miopia que porventura afetem um de seus sentidos físicos. Não estou a dizer que
eles sempre acertam, mas entendo que ouvi-los pode ser importante até mesmo
para que posicionamentos sobrevivam a questionamentos e sejam confirmados antes
de serem considerados definitivos e gerarem efeitos práticos.
Será que andamos valorizando
suficientemente os mais experientes? Será que o orgulho ou a desatenção não
estão implicando na perda de preciosas oportunidades para o nosso aprimoramento
profissional e pessoal? Fiquemos, pois, não só “de olhos abertos”, mas tentemos
efetivamente “enxergar” de que maneira a presente reflexão poderá nos ajudar e
ao mesmo tempo prestigiar quem tem condições de contribuir...
Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de Direito da 2ª Vara de
Penápolis(SP)
Professor do Unisalesiano
(publicado na Revista Comunica de agosto/2013)