O problema da comunicação (ou da falta ou ineficácia
dela) nem sempre é tratado com a atenção que merece. O tema está umbilicalmente
ligado ao adequado desempenho das atividades profissionais e à prevenção e
solução de conflitos familiares e sociais.
Não é difícil alguém se gabar de não ser violento
tão-somente pelo fato de nunca ter ofendido a integridade física de outrem.
Acontece que a violência se manifesta das mais variadas formas, inclusive pela
maneira como a pessoa se expressa. E nem sempre é fruto de uma reação
deliberada, mas de um jeito inadequado de reagir, do não saber ouvir, refletir e
expor.
É preciso ter em mente que “um golpe de açoite produz
contusões, mas um golpe de língua
quebra os ossos” (Eclesiástico, 28:17).
Emmanuel, por meio de Francisco Cândido Xavier, assim se
pronunciou: “É possível que o constrangimento do companheiro tenha surgido do
gesto impensado de tua parte. O gracejo impróprio ou o
apontamento inoportuno teria tido o efeito de um golpe. Decerto,
não alimentaste a intenção de ferir, mas a desarmonia partiu de bagatela,
agigantando-se em conflito de grandes proporções. De outras
vezes, a mente adoece, conturbada. Teremos ofendido, realmente. A cólera ter-nos-á cegado o discernimento e brandimos o tacape da
injúria. Pretendemos aconselhar e cortamos o coração de quem
ouve. Alegando franqueza, envenenamos a língua. No
pretexto de consolar, ampliamos chagas abertas. E começa para
logo a distância e a aversão ... Humildade é caminho. Entendimento é remédio. Perdão é profilaxia. Muitas vezes, loucura e crime, dispersão e calamidade nascem de
pequeninos desajustes acalentados. Não hesites rogar desculpas,
nem vaciles apagar-te, a favor da concórdia, com aparente desvantagem
particular, porquanto, na maioria dos casos de incompreensão, em que nos
imaginamos sofrer dores e ser vítimas, os verdadeiros culpados somos nós mesmos”
(Justiça Divina, capítulo 6).
A técnica da CNV tem sido muito difundida para aprimorar
relacionamentos e promover conciliações por Marshall B. Rosenberg, autor de
livro com o mesmo título (Ed. Ágora). Traduz-se em quatro fases: (1) Observação
isenta (sem crítica ou diagnóstico) do que nos agrada ou não no comportamento
do outro; (2) Identificação do sentimento que determinada postura nos gera; (3)
Individualização precisa que poderia ser feito para melhorar o convívio; (4) Formulação
clara do pedido; indicação de ações concretas. São, portanto, componentes da
CNV: observação, sentimento, necessidades e pedido. Segundo o autor, quem não
expressa honestamente seu sentimento favorece interpretação equivocada. Mas
isso tem de ser feito sem avaliações, pois se a manifestação tiver expressão de
crítica o outro poderá investir a energia dele em autodefesa ou contra-ataque,
ou seja, não reagirá da forma desejada. O pedido sem referência ao sentimento e
à necessidade que o fundamentaram poderá soar como exigência. Deve haver
sinceridade e empatia (compreensão respeitosa do que o outro está vivendo, sem
idéias preconcebidas). Às vezes pode ser interessante confirmar se o outro realmente
entendeu o que você quis dizer.
Rosenberg admite que na prática nem sempre é tão simples
administrar emoções e conseguir percorrer todas essas etapas. Mas adverte que o
treinamento poderá surtir resultados muito positivos. Propõe uma forma de
comunicação que nos leve a nos entregarmos de coração, de forma compassiva.
Sugere reformulação da maneira como nos expressamos e como ouvimos os outros.
Recomenda atenção com aquilo que denomina de “comunicação alienante da vida” e
enumera modalidades que nos afastam do nosso estado natural de compaixão,
dentre elas: (a) Julgamentos moralizadores motivados apenas por comportamentos
que estão em desacordo com nossos juízos de valor (como se fossemos “donos da verdade”);
(b) Comparações, que invariavelmente fazem surgir infelicidade, já que sempre
haverá um aspecto em relação ao qual nos sentiremos inferiores ao outro
(beleza, inteligência, condição socioeconômica etc.); (c) Negação de
responsabilidade pelos nossos comportamentos, pensamentos e sentimentos e a
tentativa de imputar a culpa a outrem, o que nos torna perigosos.
É muito importante que estejamos atentos aos sentimentos
violentos que surgem na nossa mente e que admitamos as nossas limitações, pois
essa compreensão certamente nos conduzirá a um estado mental mais pacífico, com
todos os benefícios inerentes.
Adriano
Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de
Direito em Penápolis(SP)
Professor no
Unisalesiano
(publicado na Revista Comunica de set/2013)