Sempre estive atento às omissões injustificadas e aos excessos
cometidos em desfavor do meio ambiente.
É incompreensível que as pessoas, na maioria das vezes as
ditas mais esclarecidas, ainda desprezem pequenas atitudes que, somadas, podem
repercutir tão positivamente à preservação. Há quem tenha muitos copos de vidro
e saúde para lavá-los, mas que prefere usar descartáveis nas recepções que
promove...
Sugestões ambientalmente corretas são exaustivamente
divulgadas e compartilhadas, muitas vezes, por quem, na prática, acaba ficando
só no discurso, ainda que algumas medidas não gerem custos ou tantos esforços adicionais.
Certa vez estive num evento onde houve distribuição de
mudas e abordagem de diversos temas ambientais, mas, depois ter frequentado a
praça de alimentação, não encontrei lixeiras para os recicláveis... Latas,
pratos de papel e restos de comida seguiram para o mesmo tambor, o que se
costuma ver também em quermesses, muito embora pudesse ser evitado com
facilidade.
A destinação do lixo é um problema cada vez maior para o
poder público. Mas não é tão difícil reduzir a sua produção e aumentar o seu
aproveitamento.
Por que muita gente ainda não separa lixo reciclável em
casa? Há quem justifique que não sabe quando a coleta seletiva passa etc. para
tentar explicar o seu comodismo e a falta de comprometimento e de consciência
ecológica. Sacolas distribuídas em mercados (não creio que signifiquem risco
porque podem ser aproveitadas) penduradas em locais estratégicos bastam à
separação do lixo. Repartições públicas deveriam encabeçar esse projeto, já que
produzem pouco lixo não aproveitável, o que favorece a reciclagem. Em Penápolis,
uma cooperativa que emprega várias pessoas passou a distribuir sacos
cor-de-rosa, o que tem incentivado e facilitado a separação e a coleta.
Criatividade, boa vontade e perseverança são ingredientes obrigatórios para o
êxito da reciclagem.
Penso até que a separação poderia compreender material
orgânico e que, com pouco investimento, o poder público poderia implantar um
interessante projeto de compostagem. Quitandas, restaurantes e feiras
ofereceriam importantes materiais. Pessoas condenadas pela justiça à prestação
de serviços poderiam ser convocadas. Muita coisa deixaria de seguir para aterros
sanitários, as penas surtiriam interessantes efeitos pedagógicos e hortas
públicas e comunitárias poderiam aproveitar esse adubo ecologicamente correto
(e também a referida mão-de-obra).
O assunto “embalagem” é um dos que mais chama a minha
atenção. Quem vai à farmácia buscar uma cartela de analgésico pode perfeitamente
dispensar o saquinho de papel ou a pequena sacolinha. Quem já recebeu uma
sacola numa loja não precisa de outra se nela pode acomodar a nova aquisição.
Nos shoppings, aqueles papéis nas bandejas dos refeitórios são dispensáveis. O
desperdício é gritante nas lojas de “fast food”, onde sempre sobra um monte de
papel sobre a mesa. Os comerciantes teriam condições de alterar costumes para
que houvesse economia de recursos naturais, a exemplo dos empresários de
hotelaria que agora deixam ao critério do hóspede o momento de lavar as
toalhas. Ninguém se ofenderia em ser perguntado...
Nas festas, quase sempre me pergunto a razão de um
brigadeiro precisar, atualmente, de tantas forminhas de papel sobrepostas... Muitas
vezes as pessoas não se utilizam de nenhuma delas, pois procuram a essência (o
doce). Não seria o caso rever esse costume e de privilegiar a simplicidade em
vez de acirrar verdadeiras competições de pompa, mas, ao mesmo tempo, de desperdício
e mau exemplo? Nem sempre é razoável fazer escolhas apenas com base no quesito
“beleza”.
Tenho para mim que muitas vezes falta às pessoas coragem
e personalidade para “ser diferente” e “fazer diferente” e que ainda prevalece
a preocupação com o que poderão pensar da opção pelo visual mais “clean” de determinada
embalagem de presente ou de decoração de festa, só para exemplificar. Acontece
que chegará o momento em que a revisão de práticas contrárias à preservação do
ambiente já não será opção, mas obrigação (como tem acontecido nos
racionamentos de água). Só que o cumprimento retardado de uma obrigação, como
se sabe, na maioria das vezes, não educa, não gera os mesmos resultados, além
de ser sempre mais tormentoso e de não induzir reflexão. É como aquela tarefa
que o aluno tem o final de semana inteiro para cumprir, mas que acaba fazendo bem
no fim da noite de domingo...
Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de Direito / Professor no Unisalesiano
Facebook Adriano Ponce Jurídico
www.direitoilustrado.blogspot.com.br
(publicado na edição de out/2015 da Revista Comunica)
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