Quem sou eu

Juiz de Direito desde 2007. Titular do Juizado Especial Cível de Lins(SP). Ex-Professor do Curso de Direito do Unisalesiano em Lins(SP). Ex-delegado de polícia. Motociclista, tatuado e corintiano do "bando de loucos".

4 de nov. de 2015

Reflexões sobre o lixo

Sempre estive atento às omissões injustificadas e aos excessos cometidos em desfavor do meio ambiente.
É incompreensível que as pessoas, na maioria das vezes as ditas mais esclarecidas, ainda desprezem pequenas atitudes que, somadas, podem repercutir tão positivamente à preservação. Há quem tenha muitos copos de vidro e saúde para lavá-los, mas que prefere usar descartáveis nas recepções que promove...
Sugestões ambientalmente corretas são exaustivamente divulgadas e compartilhadas, muitas vezes, por quem, na prática, acaba ficando só no discurso, ainda que algumas medidas não gerem custos ou tantos esforços adicionais.
Certa vez estive num evento onde houve distribuição de mudas e abordagem de diversos temas ambientais, mas, depois ter frequentado a praça de alimentação, não encontrei lixeiras para os recicláveis... Latas, pratos de papel e restos de comida seguiram para o mesmo tambor, o que se costuma ver também em quermesses, muito embora pudesse ser evitado com facilidade.
A destinação do lixo é um problema cada vez maior para o poder público. Mas não é tão difícil reduzir a sua produção e aumentar o seu aproveitamento.
Por que muita gente ainda não separa lixo reciclável em casa? Há quem justifique que não sabe quando a coleta seletiva passa etc. para tentar explicar o seu comodismo e a falta de comprometimento e de consciência ecológica. Sacolas distribuídas em mercados (não creio que signifiquem risco porque podem ser aproveitadas) penduradas em locais estratégicos bastam à separação do lixo. Repartições públicas deveriam encabeçar esse projeto, já que produzem pouco lixo não aproveitável, o que favorece a reciclagem. Em Penápolis, uma cooperativa que emprega várias pessoas passou a distribuir sacos cor-de-rosa, o que tem incentivado e facilitado a separação e a coleta. Criatividade, boa vontade e perseverança são ingredientes obrigatórios para o êxito da reciclagem.
Penso até que a separação poderia compreender material orgânico e que, com pouco investimento, o poder público poderia implantar um interessante projeto de compostagem. Quitandas, restaurantes e feiras ofereceriam importantes materiais. Pessoas condenadas pela justiça à prestação de serviços poderiam ser convocadas. Muita coisa deixaria de seguir para aterros sanitários, as penas surtiriam interessantes efeitos pedagógicos e hortas públicas e comunitárias poderiam aproveitar esse adubo ecologicamente correto (e também a referida mão-de-obra).
O assunto “embalagem” é um dos que mais chama a minha atenção. Quem vai à farmácia buscar uma cartela de analgésico pode perfeitamente dispensar o saquinho de papel ou a pequena sacolinha. Quem já recebeu uma sacola numa loja não precisa de outra se nela pode acomodar a nova aquisição. Nos shoppings, aqueles papéis nas bandejas dos refeitórios são dispensáveis. O desperdício é gritante nas lojas de “fast food”, onde sempre sobra um monte de papel sobre a mesa. Os comerciantes teriam condições de alterar costumes para que houvesse economia de recursos naturais, a exemplo dos empresários de hotelaria que agora deixam ao critério do hóspede o momento de lavar as toalhas. Ninguém se ofenderia em ser perguntado...
Nas festas, quase sempre me pergunto a razão de um brigadeiro precisar, atualmente, de tantas forminhas de papel sobrepostas... Muitas vezes as pessoas não se utilizam de nenhuma delas, pois procuram a essência (o doce). Não seria o caso rever esse costume e de privilegiar a simplicidade em vez de acirrar verdadeiras competições de pompa, mas, ao mesmo tempo, de desperdício e mau exemplo? Nem sempre é razoável fazer escolhas apenas com base no quesito “beleza”.
Tenho para mim que muitas vezes falta às pessoas coragem e personalidade para “ser diferente” e “fazer diferente” e que ainda prevalece a preocupação com o que poderão pensar da opção pelo visual mais “clean” de determinada embalagem de presente ou de decoração de festa, só para exemplificar. Acontece que chegará o momento em que a revisão de práticas contrárias à preservação do ambiente já não será opção, mas obrigação (como tem acontecido nos racionamentos de água). Só que o cumprimento retardado de uma obrigação, como se sabe, na maioria das vezes, não educa, não gera os mesmos resultados, além de ser sempre mais tormentoso e de não induzir reflexão. É como aquela tarefa que o aluno tem o final de semana inteiro para cumprir, mas que acaba fazendo bem no fim da noite de domingo...
Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de Direito / Professor no Unisalesiano
Facebook Adriano Ponce Jurídico
www.direitoilustrado.blogspot.com.br
(publicado na edição de out/2015 da Revista Comunica)



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