Não há dúvida de que o estágio profissional, se bem
aproveitado, pode significar importantíssima complementação à formação do
estudante e diferenciá-lo dos concorrentes.
Ele oferece experiências diversas do estágio cumprido na
faculdade. Ao atuar ao lado do profissional que está no mercado de trabalho, o
estudante tem condições de conhecer problemas específicos. Na área jurídica, é
possível desenvolver habilidades para administrar prazos; para lidar com a aflição
e/ou a inconveniência do cliente ou do profissional que defende a outra parte;
para se portar diante de propostas indecentes; para gerir o escritório; para manejar
sistemas informatizados; para arquivar e encontrar informações necessárias ao
desempenho da atividade etc. A depender do volume de serviço, o estagiário pode
ter de encarar um dos maiores desafios: conciliar produtividade com qualidade.
O estudante deve ser criterioso para não cair numa cilada
e acabar se tornando um mero expectador do profissional que não sabe delegar
tarefas ou só delega as mais árduas e improdutivas para a formação; que não
gosta de ensinar ou não tem tempo ou jeito para tanto. O estagiário de Direito,
por exemplo, não pode se contentar em ficar levando papéis de lado para o outro
ou servindo como mensageiro. Deve deixar claro que o seu interesse é conhecer a
essência da atividade. Se a finalidade do estágio não estiver sendo atingida,
deve ter a coragem de expor a sua insatisfação e, se o caso, procurar outra
vaga. Faz parte da formação do estudante tomar esse tipo de decisão, bem como identificar
a hora de se afastar do profissional que se revelar antiético, inescrupuloso,
dissimulado, desleixado ou que não adotar postura condizente com a sua
profissão na maneira de agir, pensar e falar.
O bom estagiário, qualquer que seja a área de atuação,
tem de saber escrever. Alguns bons estágios exigem redação no processo
seletivo. Para saber escrever, o candidato tem de gostar de ler. A boa redação só
é adquirida com a prática. Portanto, o candidato deve treinar para conseguir se
manifestar com objetividade e clareza. Deve saber se comunicar. Não basta o conhecimento
teórico.
A discrição é fundamental. O estagiário de um
estabelecimento de saúde, por exemplo, não pode comentar quem lá esteve e muito
menos a finalidade da visita. Deve tomar cuidado ao se manifestar para não se
exceder. Não pode confundir o bom tratamento que recebe da equipe com
oportunidade para fazer comentários e brincadeiras impertinentes. Durante a
convivência, acabará conhecendo rotinas e manias do profissional e de amigos
dele, tomando ciência de situações particulares e presenciando momentos de
descontração, mas deverá evitar comentar isso tudo mesmo com as pessoas que lhe
são próximas. Não se recomenda acanhamento excessivo, mas o estagiário deve se
lembrar de a intimidade é algo que se adquire gradativamente e desde que haja
consentimento do outro.
Durante o estágio, o estudante, ainda que seja um aluno
“nota 10”, não pode se esquecer da sua condição de aprendiz. Nem sempre é
possível dar efetividade a tudo o que se aprende na teoria.
O estagiário estará sendo avaliado e deverá aguardar
pacientemente o seu reconhecimento. Deverá aproveitar para demonstrar, além de
conhecimento, cordialidade, lealdade e seriedade. O contato com o público
poderá criar oportunidades. A pessoa que se sentir satisfeita com o atendimento
poderá se tornar parceira na construção de uma promissora carreira. Vale a pena
caprichar o tempo todo.
O estudante deve aproveitar o estágio para tirar dúvidas,
mas deve escolher momentos oportunos para questionamentos e estudar antes de
formulá-los, pois o profissional não terá condições de ficar explicando
minuciosamente cada situação.
Nos dois últimos anos do curso de Direito, fiz acordo com
a empregadora para que eu pudesse estagiar no Ministério Público, onde conheci
profissionais que, anos depois, firmaram cartas de recomendação que encaminhei
para bancas de concursos públicos, o que sem dúvida repercutiu positivamente para
as minhas aprovações.
Sempre costumo dizer que a graduação é época de acumular
conhecimento e não bens materiais. Muita gente precisa trabalhar para custear
os estudos, mas aquele que tem condições de se dedicar a um bom estágio, ainda
que sofra algumas privações (a compensação financeira nem sempre equivale
àquela que poderia ter alcançada noutra atividade), deve optar por reforçar o
conhecimento. Até mesmo o estágio sem remuneração deve ser cogitado se o
estudante puder restringir despesas e contar com a ajuda financeira dos pais ou
de terceiros. O candidato deve se conscientizar de que investirá tempo
relativamente curto em algo que poderá render frutos pelo resto da vida. Deve
ter paciência e consciência de que tudo tem o seu tempo; de que só quem planta
pode colher.
Não seria o caso de eleger prioridades e planejar,
imediatamente, uma reviravolta na busca por um bom futuro profissional?
Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de Direito / Professor no Unisalesiano
Facebook Adriano Ponce Jurídico
www.direitoilustrado.blogspot.com.br
www.youtube.com/adrianoponce10
(publicado no Diário de Penápolis de 10/12/2015 e na
edição de dezembro/2015 da Revista Comunica)