Quem sou eu

Juiz de Direito desde 2007. Titular do Juizado Especial Cível de Lins(SP). Ex-Professor do Curso de Direito do Unisalesiano em Lins(SP). Ex-delegado de polícia. Motociclista, tatuado e corintiano do "bando de loucos".

3 de jan. de 2016

Estágio profissional

Não há dúvida de que o estágio profissional, se bem aproveitado, pode significar importantíssima complementação à formação do estudante e diferenciá-lo dos concorrentes.
Ele oferece experiências diversas do estágio cumprido na faculdade. Ao atuar ao lado do profissional que está no mercado de trabalho, o estudante tem condições de conhecer problemas específicos. Na área jurídica, é possível desenvolver habilidades para administrar prazos; para lidar com a aflição e/ou a inconveniência do cliente ou do profissional que defende a outra parte; para se portar diante de propostas indecentes; para gerir o escritório; para manejar sistemas informatizados; para arquivar e encontrar informações necessárias ao desempenho da atividade etc. A depender do volume de serviço, o estagiário pode ter de encarar um dos maiores desafios: conciliar produtividade com qualidade.
O estudante deve ser criterioso para não cair numa cilada e acabar se tornando um mero expectador do profissional que não sabe delegar tarefas ou só delega as mais árduas e improdutivas para a formação; que não gosta de ensinar ou não tem tempo ou jeito para tanto. O estagiário de Direito, por exemplo, não pode se contentar em ficar levando papéis de lado para o outro ou servindo como mensageiro. Deve deixar claro que o seu interesse é conhecer a essência da atividade. Se a finalidade do estágio não estiver sendo atingida, deve ter a coragem de expor a sua insatisfação e, se o caso, procurar outra vaga. Faz parte da formação do estudante tomar esse tipo de decisão, bem como identificar a hora de se afastar do profissional que se revelar antiético, inescrupuloso, dissimulado, desleixado ou que não adotar postura condizente com a sua profissão na maneira de agir, pensar e falar.
O bom estagiário, qualquer que seja a área de atuação, tem de saber escrever. Alguns bons estágios exigem redação no processo seletivo. Para saber escrever, o candidato tem de gostar de ler. A boa redação só é adquirida com a prática. Portanto, o candidato deve treinar para conseguir se manifestar com objetividade e clareza. Deve saber se comunicar. Não basta o conhecimento teórico.
A discrição é fundamental. O estagiário de um estabelecimento de saúde, por exemplo, não pode comentar quem lá esteve e muito menos a finalidade da visita. Deve tomar cuidado ao se manifestar para não se exceder. Não pode confundir o bom tratamento que recebe da equipe com oportunidade para fazer comentários e brincadeiras impertinentes. Durante a convivência, acabará conhecendo rotinas e manias do profissional e de amigos dele, tomando ciência de situações particulares e presenciando momentos de descontração, mas deverá evitar comentar isso tudo mesmo com as pessoas que lhe são próximas. Não se recomenda acanhamento excessivo, mas o estagiário deve se lembrar de a intimidade é algo que se adquire gradativamente e desde que haja consentimento do outro.
Durante o estágio, o estudante, ainda que seja um aluno “nota 10”, não pode se esquecer da sua condição de aprendiz. Nem sempre é possível dar efetividade a tudo o que se aprende na teoria.
O estagiário estará sendo avaliado e deverá aguardar pacientemente o seu reconhecimento. Deverá aproveitar para demonstrar, além de conhecimento, cordialidade, lealdade e seriedade. O contato com o público poderá criar oportunidades. A pessoa que se sentir satisfeita com o atendimento poderá se tornar parceira na construção de uma promissora carreira. Vale a pena caprichar o tempo todo.
O estudante deve aproveitar o estágio para tirar dúvidas, mas deve escolher momentos oportunos para questionamentos e estudar antes de formulá-los, pois o profissional não terá condições de ficar explicando minuciosamente cada situação.
Nos dois últimos anos do curso de Direito, fiz acordo com a empregadora para que eu pudesse estagiar no Ministério Público, onde conheci profissionais que, anos depois, firmaram cartas de recomendação que encaminhei para bancas de concursos públicos, o que sem dúvida repercutiu positivamente para as minhas aprovações.
Sempre costumo dizer que a graduação é época de acumular conhecimento e não bens materiais. Muita gente precisa trabalhar para custear os estudos, mas aquele que tem condições de se dedicar a um bom estágio, ainda que sofra algumas privações (a compensação financeira nem sempre equivale àquela que poderia ter alcançada noutra atividade), deve optar por reforçar o conhecimento. Até mesmo o estágio sem remuneração deve ser cogitado se o estudante puder restringir despesas e contar com a ajuda financeira dos pais ou de terceiros. O candidato deve se conscientizar de que investirá tempo relativamente curto em algo que poderá render frutos pelo resto da vida. Deve ter paciência e consciência de que tudo tem o seu tempo; de que só quem planta pode colher.
Não seria o caso de eleger prioridades e planejar, imediatamente, uma reviravolta na busca por um bom futuro profissional?
Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de Direito / Professor no Unisalesiano
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(publicado no Diário de Penápolis de 10/12/2015 e na edição de dezembro/2015 da Revista Comunica)