O texto abaixo foi escrito por um Advogado e publicado no Jornal Regional de Penápolis(SP) de 19/2/2013. Por não ser tão usual assim alguém compreender as dificuldades do Judiciário e inclusive elogiar o esforço de seus servidores, resolvi publicá-lo neste espaço, "ipsis litteris", com autorização do autor, para induzir reflexão.
Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira - Juiz Titular da 2ª Vara de Penápolis(SP)
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Carta aos Juízes, Promotores e demais funcionários do fórum da Comarca
Penápolis
Muitas pessoas desejam alcançar
um cargo na Magistratura, alguns impulsionados pelo salário, outros pelo status
ou ainda por amor aos estudos, mas estes atrativos são insuficientes para
manter alguém que não é do ramo na função.
Amar as pessoas e a justiça é a
condição primeira para ser um Juiz, que resulta de um tipo de sabedoria que não
se aprende somente em livros técnicos, nem decorre de uma progressiva conquista
de graus acadêmicos, sendo algo maior e mais profundo. Estar na posição de
decidir destinos e impor decisões, exige do julgador uma sabedoria extrema a
qual podemos extrair dos tempos mais remotos: Na Bíblia, no primeiro livro de
Reis 3: 16-28, podemos analisar a famosa história de Salomão em que duas
mulheres foram ao seu palácio, as quais tiveram filhos juntas. Um dos filhos
morreu e a mãe desesperada pegou a criança da outra mãe. Pela manhã esta mãe percebeu
que aquele que tinha morrido não era seu filho e começaram a discutir. Para
resolver o problema foram ao palácio do Rei Salomão e contaram-lhe a história.
Ele mandou chamar um dos guardas e lhe ordenou: "Corte o bebê ao meio e dê
um pedaço para cada uma". Após a decisão uma das mães começou a chorar e
disse: "Não! Eu prefiro ver meu filho nos braços de outra do que morto nos
meus", enquanto a outra disse: "Pra mim é justo!". Salomão,
reconhecendo a mãe na primeira mulher, mandou que lhe entregassem o filho. Veja
a sabedoria deste julgador em tempos que sequer existia o DNA ou mesmo
jurisprudências.
“Hoje, muitos acham que um Juiz
se forma quando é aprovado em concurso público e é nomeado a tomar posse no
cargo. Mas não é tão simples assim. A pessoa torna-se um Juiz muito tempo antes
do concurso, pois lutar por uma vida mais justa e solidária está na alma do
julgador, que se prepara para ser um Juiz uma vida inteira, em que todo dia é
dia de viver e aprender”.
Cada vez mais o Judiciário é
chamado a decidir sobre situações que afetam a vida de todos. A busca de uma
existência mais feliz e harmônica é a razão de ser da atividade jurisdicional.
Em Penápolis temos ótimos Juízes,
assim como ótimos Promotores. Pessoas com dedicação, capacidade de renúncia,
entusiasmo, reflexão, estudos permanentes e trabalho excessivo! Com uma
responsabilidade enorme de nos fazer acreditar em dias melhores.
Muitas pessoas olham para o fórum
e pensam que a justiça é demorada, mas o termo: “demora”, referindo-se ao nosso
fórum de Penápolis é usado de forma equivocada! Quando uma pessoa “demora” em
fazer algo, dá uma impressão de descaso, desleixo, esquecimento!
Como cidadão penapolense não
aceito esses termos! Só Deus sabe o tanto que trabalham esses escreventes,
oficiais de justiça, juízes, promotores, oficiais de promotoria, etc.
Fui estagiário no fórum e
acompanhei de perto a rotina deles, e observei que eles podem ter mil acertos,
mas caso haja um erro, alguns da sociedade apontarão o erro. Como se o ser
humano fosse infalível!
Escrevo para aqueles que indagam:
“O que os funcionários fazem dentro do fórum para um processo demorar tanto,
sendo algumas coisas tão simples?”
Querido munícipe, caso você seja
uma pessoa que afirme isso, peço que fique pelo menos um dia dentro do fórum.
Esse pré-conceito com funcionalismo público não deve ser ilustrado para os
nossos dedicados funcionários, que batalham para fazer a máquina judiciária de
Penápolis funcionar.
Perceberá também que existe uma
burocracia que deve ser respeitada em virtude da Lei, e que eles devem dar
conta de milhares de processos, respeitando todos os atos, dentre eles:
Organizar, preparar a capa, ler, carimbar, cadastrar, dar conta de prazos,
atender o balcão, subir escadas, descer escadas, sentenciar, oficiar,
pronunciar, condenar, etc...
Sendo certo, que muitos vão além
do que lhes foram atribuídos quando ingressados em seus respectivos cargos.
Superada esta etapa, você
perceberá que um dia de trabalho é pouco e insuficiente para atender a demanda
e que o problema não está nos funcionários.
Concluindo! Parabenizo o Judiciário
da Comarca de Penápolis, e sei o tanto que vocês se esforçam por nós
penapolenses e os munícipes das demais cidades. Que Deus os abençoe sempre.
GUILHERME MARTINS MORENO
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Se tiver algo a dizer para contribuir, fique à vontade. Nosso objetivo é aperfeiçoar cada vez mais este espaço.