A minha inspiração surgiu da notícia de que alguns cursos
de Direito passarão a oferecer a disciplina “Magistratura – Vocação e Desafios”, em parceria com a Escola Nacional de
Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam).
Não são raros os casos de pessoas que se dedicaram por
longos anos a determinada formação profissional que acabou não se tornando
profissão. É claro que esse desfecho nem sempre é esperado e que circunstâncias
pessoais acabam interferindo (necessidade de cuidar dos filhos, falta de
recursos para equipamentos, dentre outros). Muitos abandonam cursos na
iminência de serem concluídos, isso pelas mais variadas razões, dentre elas, limitações
financeiras, oportunidades ou impedimentos profissionais, cansaço, falta de
motivação etc.
Mas a abordagem do tema será feita sob a ótica da
desilusão e principalmente da falta de vocação.
Quando se é muito jovem, é comum que a escolha
profissional seja feita sob influência (às vezes, forte) de parentes, o que nem
sempre é saudável, pois o que é bom para um pode não ser bom para o outro. Se
houver ingerência e se o jovem focar exclusivamente o retorno financeiro de dada
profissão, as chances de se tornar uma pessoa infeliz se multiplicarão.
Isso porque a nossa felicidade em outros setores da vida
depende bastante da satisfação profissional, entendida aqui, em linhas gerais,
não como a possibilidade de auferir boa renda, mas de se satisfazer com aquilo
que se faz e, principalmente, de se conseguir dominar bem as situações
desagradáveis que toda profissão oferece e que estão presentes na maioria dos
ambientes de trabalho. Gostar de uma profissão quando tudo corre bem é fácil. O
complicado é manter o equilíbrio e a satisfação diante de metas, prazos, grande
volume de serviço, reclamações (especialmente as infundadas), ofensas, assédio
moral, disputas desleais, incompatibilidade de gênios, falta de reconhecimento etc.
Em razão disso, entendo que é fundamental que a pessoa
conheça com mais profundidade a rotina de um profissional da área que pretende
ingressar. Os testes vocacionais sem dúvida são importantes, mas eles nem
sempre contemplam todos os problemas cotidianos que variam conforme o local de
trabalho. Por isso, estagiar ou mesmo tentar conhecer o meio profissional
promovendo visitas e entrevistas é imprescindível.
Muitos já me perguntaram de qual carreira mais gostei:
Delegado de Polícia ou Magistratura. Essa não é uma indagação fácil de ser
respondida. Na polícia a atividade era mais dinâmica e a carga de
responsabilidade era menor. Havia mais convivência, trabalho em equipe.
Atividades internas se revezavam com operações que eu reputava prazerosas. Em
contrapartida, o risco era maior. A exposição na “linha de frente”, no momento
de tensão, desgastava mais. O trabalho nos finais de semana e madrugadas era
uma constante. Na Magistratura, demorei a me acostumar com o gabinete e o
trabalho solitário, sufocante e, a depender da decisão a ser tomada,
tormentoso. O risco, pelo menos em tese, se atenuou. Conflitos são menos
constantes. A responsabilidade é muito maior. A possibilidade de intervir mais
efetivamente na defesa dos direitos das pessoas e na promoção da justiça gera
satisfação. Mas também há frustrações porque não é sempre que se pode fazer
aquilo que se deseja, diante das limitações legais e processuais. Na verdade eu
gostei das duas e lembro-me com saudosismo da primeira.
A conclusão é a de que sempre haverá fatores positivos e
negativos em cada atividade profissional. E é isso que se deve ter mente: não
há profissão perfeita. O seu estado de espírito e a extensão da sua compreensão
de todas essas variantes é que lhe permitirão ser feliz ou infeliz na maior
parte do tempo fazendo alguma coisa. Tendo conhecimento da rotina, estará mais
preparado. Uma coisa é certa: o salário que você vai ganhar quase sempre será o
fator menos relevante para que se sinta satisfeito. Isso porque se não tiver
vocação e prazer naquilo que faz, o dinheiro nunca compensará a sua infelicidade
profissional. Eu mesmo conheço quem mudou de profissão para ganhar menos e
fazer o que gosta.
Convém sempre refletir, seja quando parece que já se tem
uma escolha pronta; seja quando se está na caminhada, seja quando já se está
exercendo certa atividade. Não desperdice tempo e dinheiro. A vida passa rápido
e se é possível alterar seu rumo para melhor, nada justifica aceitar, inerte, a
frustração. Tenha coragem para escolher aquilo que desejará vivenciar no
futuro. Ouça conselhos, mas escolha você mesmo!
Adriano
Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de
Direito da 2ª Vara de Penápolis(SP)
(publicado na edição de fev/2013 da Revista Comunica D+)