Quem sou eu

Juiz de Direito desde 2007. Titular do Juizado Especial Cível de Lins(SP). Ex-Professor do Curso de Direito do Unisalesiano em Lins(SP). Ex-delegado de polícia. Motociclista, tatuado e corintiano do "bando de loucos".

12 de mar. de 2013

A escolha é sua...

A escolha é sua...
            A minha inspiração surgiu da notícia de que alguns cursos de Direito passarão a oferecer a disciplina “Magistratura – Vocação e Desafios”, em parceria com a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam).
            Não são raros os casos de pessoas que se dedicaram por longos anos a determinada formação profissional que acabou não se tornando profissão. É claro que esse desfecho nem sempre é esperado e que circunstâncias pessoais acabam interferindo (necessidade de cuidar dos filhos, falta de recursos para equipamentos, dentre outros). Muitos abandonam cursos na iminência de serem concluídos, isso pelas mais variadas razões, dentre elas, limitações financeiras, oportunidades ou impedimentos profissionais, cansaço, falta de motivação etc.
           Mas a abordagem do tema será feita sob a ótica da desilusão e principalmente da falta de vocação.
            Quando se é muito jovem, é comum que a escolha profissional seja feita sob influência (às vezes, forte) de parentes, o que nem sempre é saudável, pois o que é bom para um pode não ser bom para o outro. Se houver ingerência e se o jovem focar exclusivamente o retorno financeiro de dada profissão, as chances de se tornar uma pessoa infeliz se multiplicarão.
            Isso porque a nossa felicidade em outros setores da vida depende bastante da satisfação profissional, entendida aqui, em linhas gerais, não como a possibilidade de auferir boa renda, mas de se satisfazer com aquilo que se faz e, principalmente, de se conseguir dominar bem as situações desagradáveis que toda profissão oferece e que estão presentes na maioria dos ambientes de trabalho. Gostar de uma profissão quando tudo corre bem é fácil. O complicado é manter o equilíbrio e a satisfação diante de metas, prazos, grande volume de serviço, reclamações (especialmente as infundadas), ofensas, assédio moral, disputas desleais, incompatibilidade de gênios, falta de reconhecimento etc.
            Em razão disso, entendo que é fundamental que a pessoa conheça com mais profundidade a rotina de um profissional da área que pretende ingressar. Os testes vocacionais sem dúvida são importantes, mas eles nem sempre contemplam todos os problemas cotidianos que variam conforme o local de trabalho. Por isso, estagiar ou mesmo tentar conhecer o meio profissional promovendo visitas e entrevistas é imprescindível.
            Muitos já me perguntaram de qual carreira mais gostei: Delegado de Polícia ou Magistratura. Essa não é uma indagação fácil de ser respondida. Na polícia a atividade era mais dinâmica e a carga de responsabilidade era menor. Havia mais convivência, trabalho em equipe. Atividades internas se revezavam com operações que eu reputava prazerosas. Em contrapartida, o risco era maior. A exposição na “linha de frente”, no momento de tensão, desgastava mais. O trabalho nos finais de semana e madrugadas era uma constante. Na Magistratura, demorei a me acostumar com o gabinete e o trabalho solitário, sufocante e, a depender da decisão a ser tomada, tormentoso. O risco, pelo menos em tese, se atenuou. Conflitos são menos constantes. A responsabilidade é muito maior. A possibilidade de intervir mais efetivamente na defesa dos direitos das pessoas e na promoção da justiça gera satisfação. Mas também há frustrações porque não é sempre que se pode fazer aquilo que se deseja, diante das limitações legais e processuais. Na verdade eu gostei das duas e lembro-me com saudosismo da primeira.
            A conclusão é a de que sempre haverá fatores positivos e negativos em cada atividade profissional. E é isso que se deve ter mente: não há profissão perfeita. O seu estado de espírito e a extensão da sua compreensão de todas essas variantes é que lhe permitirão ser feliz ou infeliz na maior parte do tempo fazendo alguma coisa. Tendo conhecimento da rotina, estará mais preparado. Uma coisa é certa: o salário que você vai ganhar quase sempre será o fator menos relevante para que se sinta satisfeito. Isso porque se não tiver vocação e prazer naquilo que faz, o dinheiro nunca compensará a sua infelicidade profissional. Eu mesmo conheço quem mudou de profissão para ganhar menos e fazer o que gosta.
            Convém sempre refletir, seja quando parece que já se tem uma escolha pronta; seja quando se está na caminhada, seja quando já se está exercendo certa atividade. Não desperdice tempo e dinheiro. A vida passa rápido e se é possível alterar seu rumo para melhor, nada justifica aceitar, inerte, a frustração. Tenha coragem para escolher aquilo que desejará vivenciar no futuro. Ouça conselhos, mas escolha você mesmo!
Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de Direito da 2ª Vara de Penápolis(SP)
(publicado na edição de fev/2013 da Revista Comunica D+)