Decidir frequentar curso superior noturno
depois do trabalho é um ato de coragem e por isso quem se matricula já pode se
sentir vitorioso. Afinal, assume um compromisso de pelo menos quatro anos,
normalmente, cinco. Muitas vezes deixa a zona de conforto...
Via de regra essa pessoa age movida por uma
vontade muito grande de transformar a vida e de testar os seus limites. Em
grande parte das vezes sequer dispõe de todos os recursos necessários ao
custeio dos estudos, mas se arrisca para ver o que vai dar.
Tomar a decisão é o maior passo, mas, é
claro, muitas dificuldades surgem quando o curso começa. Nem sempre o aluno tem
afinidade com as disciplinas que irá cursar. Nem sempre tinha o hábito de
estudar. Muitas vezes estava longe dos estudos havia algum tempo. Em alguns
casos não tem a exata noção do que lhe espera. Há quem não tenha o necessário
apoio da família. E não é difícil alguém se dispor a estudar o que não gosta
somente para agradar os pais. Tudo isso exige doses extras de reflexão, atenção
e perseverança.
Com a proliferação de cursos e o consequente
aumento da oferta de vagas, os processos seletivos estão menos exigentes e os
candidatos às vezes não têm encontrado grandes dificuldades. Essa circunstância
acaba gerando no novo aluno uma falsa sensação de preparo.
Acontece que o curso superior tem carga
horária elevada e os professores estão compromissados com o cumprimento do que
foi planejado pelas instituições. E mesmo assim, normalmente o futuro exercício
profissional dependerá de estudos complementares, uma vez que nem sempre haverá
tempo de repassar todo o conteúdo, seja pela vastidão da matéria, seja porque
os docentes terão de adotar ritmo compatível com as diferenças de preparo, de
capacidade e de empenho verificadas nas numerosas salas de aula.
Mas o que o aluno que trabalha durante o dia
pode fazer para enfrentar melhor a fase de formação superior?
Um caderno bem anotado é fundamental. Pode
evitar despesas com livros e cópias reprográficas. Reproduzir o caderno do
colega antes da avaliação pode até ajudar, mas nem sempre haverá familiaridade
com redação utilizada, o que poderá comprometer a absorção do conteúdo. Por
isso, cada um deve se esmerar em fazer os seus próprios apontamentos.
Na fase da graduação os livros devem apenas
complementar os estudos de temas tidos como mais relevantes e/ou que causam
mais dificuldades. Não se pode estudar apenas por eles. Isso porque normalmente
não há tempo para extensas leituras e elas desmotivam o estudante. Daí a importância
de anotações completas sobre o que foi dito e de se prestar muita atenção nas
explicações.
O aluno não pode ter medo de pedir
esclarecimentos ao professor. Não pode sair com dúvida. Nem sempre conseguirá
saná-la sozinho ou pelo menos perderá muito tempo para tanto. Não deve se
importar com eventuais críticas de colegas menos interessados. E se o professor
reluta em responder indagações, a questão deverá ser levada ao conhecimento do
seu superior.
O tempo do intervalo deve ser bem
aproveitado. Pode ser importante para uma visita à biblioteca. Se sempre existe
fila na lanchonete, por que não trazer algo de casa para comer? Aliás, a fome
dificulta o aprendizado. Demorar para retornar à sala e perder os minutos
iniciais das explicações pode interferir sobremaneira na compreensão.
Para maior conforto são recomendáveis
releituras das anotações nos finais de semana. A prática poderá evitar exames,
repetições e frequência a custosos cursos preparatórios.
O método de estudo deve ser pessoal, mas vale
a pena trocar idéias para saber como o colega procede. “Encaixar” a graduação
numa rotina que já era corrida por conta do trabalho e da família poderá exigir
a redução de horas de sono por algum tempo, mas, é claro, o estudante deverá
decidir isso com bom senso e orientação para não comprometer a saúde. Deve-se
abdicar, ainda que temporariamente, daquilo que pode esperar.
É claro que os perfis dos estudantes e dos
cursos geram especificidades que não podem ser tratadas nesta breve análise. O
que pretendo é apenas ressaltar a necessidade de uma completa mudança de
postura quando alguém decide trabalhar e estudar. É preciso ser mais do que um
mero frequentador do curso. Adaptações na rotina evitarão uma série de
dissabores. Todo o tempo desviado para atividades menos importantes (como as
redes sociais) acabará sendo de uma forma ou outra “cobrado” do aluno. Toda
tarefa protelada se torna mais difícil e demorada de ser executada. Etapas que
poderiam ser superadas com um pouco de esforço poderão se tornar um grande fardo
por culpa exclusiva do discente. Dito isso, por que não fazer alguma coisa
desde já para preservar a sua tranquilidade e melhorar o seu aproveitamento?
Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de Direito / Professor no Unisalesiano
Facebook Adriano Ponce Jurídico
(publicado na edição de junho de 2015 da
Revista Comunica)