Quem sou eu

Juiz de Direito desde 2007. Titular do Juizado Especial Cível de Lins(SP). Ex-Professor do Curso de Direito do Unisalesiano em Lins(SP). Ex-delegado de polícia. Motociclista, tatuado e corintiano do "bando de loucos".

20 de jun. de 2015

O desafio de trabalhar e estudar


Decidir frequentar curso superior noturno depois do trabalho é um ato de coragem e por isso quem se matricula já pode se sentir vitorioso. Afinal, assume um compromisso de pelo menos quatro anos, normalmente, cinco. Muitas vezes deixa a zona de conforto...

Via de regra essa pessoa age movida por uma vontade muito grande de transformar a vida e de testar os seus limites. Em grande parte das vezes sequer dispõe de todos os recursos necessários ao custeio dos estudos, mas se arrisca para ver o que vai dar.

Tomar a decisão é o maior passo, mas, é claro, muitas dificuldades surgem quando o curso começa. Nem sempre o aluno tem afinidade com as disciplinas que irá cursar. Nem sempre tinha o hábito de estudar. Muitas vezes estava longe dos estudos havia algum tempo. Em alguns casos não tem a exata noção do que lhe espera. Há quem não tenha o necessário apoio da família. E não é difícil alguém se dispor a estudar o que não gosta somente para agradar os pais. Tudo isso exige doses extras de reflexão, atenção e perseverança.

Com a proliferação de cursos e o consequente aumento da oferta de vagas, os processos seletivos estão menos exigentes e os candidatos às vezes não têm encontrado grandes dificuldades. Essa circunstância acaba gerando no novo aluno uma falsa sensação de preparo.

Acontece que o curso superior tem carga horária elevada e os professores estão compromissados com o cumprimento do que foi planejado pelas instituições. E mesmo assim, normalmente o futuro exercício profissional dependerá de estudos complementares, uma vez que nem sempre haverá tempo de repassar todo o conteúdo, seja pela vastidão da matéria, seja porque os docentes terão de adotar ritmo compatível com as diferenças de preparo, de capacidade e de empenho verificadas nas numerosas salas de aula.

Mas o que o aluno que trabalha durante o dia pode fazer para enfrentar melhor a fase de formação superior?

Um caderno bem anotado é fundamental. Pode evitar despesas com livros e cópias reprográficas. Reproduzir o caderno do colega antes da avaliação pode até ajudar, mas nem sempre haverá familiaridade com redação utilizada, o que poderá comprometer a absorção do conteúdo. Por isso, cada um deve se esmerar em fazer os seus próprios apontamentos.

Na fase da graduação os livros devem apenas complementar os estudos de temas tidos como mais relevantes e/ou que causam mais dificuldades. Não se pode estudar apenas por eles. Isso porque normalmente não há tempo para extensas leituras e elas desmotivam o estudante. Daí a importância de anotações completas sobre o que foi dito e de se prestar muita atenção nas explicações.

O aluno não pode ter medo de pedir esclarecimentos ao professor. Não pode sair com dúvida. Nem sempre conseguirá saná-la sozinho ou pelo menos perderá muito tempo para tanto. Não deve se importar com eventuais críticas de colegas menos interessados. E se o professor reluta em responder indagações, a questão deverá ser levada ao conhecimento do seu superior.

O tempo do intervalo deve ser bem aproveitado. Pode ser importante para uma visita à biblioteca. Se sempre existe fila na lanchonete, por que não trazer algo de casa para comer? Aliás, a fome dificulta o aprendizado. Demorar para retornar à sala e perder os minutos iniciais das explicações pode interferir sobremaneira na compreensão.

Para maior conforto são recomendáveis releituras das anotações nos finais de semana. A prática poderá evitar exames, repetições e frequência a custosos cursos preparatórios.

O método de estudo deve ser pessoal, mas vale a pena trocar idéias para saber como o colega procede. “Encaixar” a graduação numa rotina que já era corrida por conta do trabalho e da família poderá exigir a redução de horas de sono por algum tempo, mas, é claro, o estudante deverá decidir isso com bom senso e orientação para não comprometer a saúde. Deve-se abdicar, ainda que temporariamente, daquilo que pode esperar.

É claro que os perfis dos estudantes e dos cursos geram especificidades que não podem ser tratadas nesta breve análise. O que pretendo é apenas ressaltar a necessidade de uma completa mudança de postura quando alguém decide trabalhar e estudar. É preciso ser mais do que um mero frequentador do curso. Adaptações na rotina evitarão uma série de dissabores. Todo o tempo desviado para atividades menos importantes (como as redes sociais) acabará sendo de uma forma ou outra “cobrado” do aluno. Toda tarefa protelada se torna mais difícil e demorada de ser executada. Etapas que poderiam ser superadas com um pouco de esforço poderão se tornar um grande fardo por culpa exclusiva do discente. Dito isso, por que não fazer alguma coisa desde já para preservar a sua tranquilidade e melhorar o seu aproveitamento?

Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
Juiz de Direito / Professor no Unisalesiano
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(publicado na edição de junho de 2015 da Revista Comunica)