Um dos primeiros
textos que publiquei, em 1999, quando era delegado de polícia, tratou da minha
indignação com uma atitude de certa forma corriqueira, mas incompreensível, de
pessoas que se intitulavam “de bem”. Ele foi nominado “Sinal de Inteligência”.
Discorri sobre os
“sinais de luz” de que motoristas se serviam, nas estradas, para alertarem os
demais sobre a presença da polícia...
Expliquei que
sinalizar a iminência de uma fiscalização para pessoas desconhecidas poderia
facilitar, por exemplo, que um ladrão de carros conseguisse se evadir.
Ilustrei o texto
com uma situação fictícia, mas perfeitamente possível de acontecer: João,
depois de passar por uma blitze; começou a sinalizar a presença da polícia na
rodovia; alertou o condutor de um VW/Gol de cor vermelha; possibilitou que o
“beneficiado” alterasse a sua rota e ingressasse em uma estrada vicinal; e, ao
chegar à sua casa, o “bondoso” motorista descobriu que o automóvel tinha sido
furtado da própria esposa...
Lamentei que
alguns motoristas relutavam em se conscientizarem da importância das
fiscalizações para redução de acidentes de trânsito; apreensão de drogas e
armas; recolhimento de veículos em mau estado de conservação; repressão ao
furto e roubo de autos, de cargas e de animais; e detenção de condutores
alcoolizados ou imprudentes por qualquer outra razão.
Ressaltei a
necessidade de eliminação do hábito de aplicar o “sinal de luz”, pois a prática
potencialmente beneficiava criminosos.
Recomendei ao
leitor que, ao contrário, em “sinal de inteligência”, de cidadania, de aversão
à impunidade e à injustiça, auxiliasse a polícia.
Muitos anos se
passaram e, infelizmente, algumas pessoas continuam dedicando o seu tempo para
enfraquecerem a já difícil repressão ao crime.
Naquela época poucos
tinham acesso aos telefones celulares. Atualmente, ao contrário, muita gente
alimenta aplicativos para “smartphones” criados especificamente para indicarem
blitzes policiais, o que pode até gerar risco de morte para os servidores.
Revoltante! Injustificável!
Impressiona o
fato de essas mesmas pessoas, que utilizam aplicativos e também redes sociais
para alertarem bandidos, criticarem com veemência instituições que se desdobram
para tentarem garantir a sua segurança. Essas mesmas pessoas normalmente denotam
absoluta falta de disposição de cooperação com as polícias e, consequentemente,
com a comunidade, já que poderiam dedicar o seu tempo para denúncias úteis às
ações policiais.
Alguns somente
despertam para a necessidade de auxiliarem as autoridades depois que eles
mesmos ou pessoas próximas acabam sendo vítimas de ações violentas. Somente
depois disso é que “vestem a camisa” com o rosto da vítima, fundam associações
etc. Às vezes, inclusive, fica evidente a intenção de usar a “desgraça” para
autopromoção...
É preciso que as
pessoas se conscientizem de que, ainda que não sejam suficientemente corajosas
para delatarem malfeitores, pelo menos devem evitar atitudes que possam
favorecê-los.
É inacreditável
que esse tema tenha de ser destacado, pois era de se esperar que maioria das
pessoas tivesse espírito de equipe, bom senso e se preocupasse com o próximo.
De qualquer
forma, continuo esperançoso de que vale a pena fazer o alerta, tanto que decidi
reavivar o assunto, cada vez mais atual, assim que deparei com a seguinte
reportagem televisiva: policiais estão tendo de divulgar, falsamente, operações
em certos locais, para, em seguida, se posicionarem noutros, na tentativa de
conseguirem atingir minimamente os seus intentos, tudo isso por conta do
crescente uso dos “aplicativos do mal” a que me referi. Muito triste, mas é a
realidade...
Adriano Rodrigo Ponce
de Oliveira
Juiz de Direito
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Ponce Jurídico
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www.youtube.com/adrianoponce10
(publicado
na edição de 26/5/2016 do Diário de Penápolis e na edição de junho/2016 da
Revista Comunica)