Quem sou eu

Juiz de Direito desde 2007. Titular do Juizado Especial Cível de Lins(SP). Ex-Professor do Curso de Direito do Unisalesiano em Lins(SP). Ex-delegado de polícia. Motociclista, tatuado e corintiano do "bando de loucos".

2 de set. de 2012

Tiroteio no motel

Tiroteio no motel
         Madrugada aparentemente tranqüila de 16/04/1999. Por volta de 00h30min eu adentrava, na condição de usuário, num motel localizado nas imediações das cidades de Lins(SP) e Guaiçara(SP). Um veículo mal-estacionado e vazio logo na entrada do estabelecimento, pouco depois da portaria, me chamou a atenção. Enquanto percorria o pátio, avistei uma senhora sinalizando através de uma janela. Me aproximei e fui então notificado de que ela estava trancada na cozinha, e de que três criminosos armados haviam rendido todos os empregados e empreendiam um roubo naquele exato momento. A reação foi imediata: apesar de armado, eu precisava preservar a integridade física da minha companheira. Fiz uma manobra rápida e deixei o recinto através da entrada, presumindo que os bandidos pudessem estar nos aguardando na saída do imóvel. Através do telefone celular acionei policiais militares que prestaram imediato atendimento ao chamado. Fui ao encontro deles e ingressei numa das viaturas quando elas deixavam a cidade. Ao desembarcarmos no local, logo constatamos que o porteiro, assim como um casal que havia sido rendido na entrada, estavam amarrados e amordaçados na portaria. O carro que chamara a minha atenção pertencia ao casal. Os fios telefônicos haviam sido cortados. Avançamos com cautela (principalmente eu, o único a não usar colete à prova de bala). Para nossa surpresa, enquanto diante do apartamento nº 1, fomos surpreendidos com a estranha atitude de um dos ladrões, que em vez de buscar fuga pelos fundos do estabelecimento, onde havia um matagal, optou por fugir pela portaria. Eu e os demais policiais estivemos frente a frente com ele e teve início uma intensa troca de tiros. Consumida toda a munição de ambos os lados, ele correu pela portaria, foi perseguido, mas conseguiu fugir. Eu particularmente não o persegui: tive receio de ser surpreendido, pelas costas, pelos seus comparsas, que até então não sabíamos onde estavam. Devem ter pulado os muros e empreendido fuga pelos fundos. Posteriormente eu soube que eles realmente estavam no portão da saída à espera de casais desavisados. Já haviam roubado o caixa da portaria e outros dois casais que estavam nos quartos. Um dos delinqüentes havia forçado uma cliente a fazer sexo oral nele. Cogitando a possibilidade dos outros dois ladrões estarem escondidos nos quartos, decidimos vistoriá-los. Os casais, assustados, relutaram a abrir as portas, mas acabaram tendo a certeza de que éramos realmente policias. Não adiantava somente perguntar pela janela se tudo corria bem, pois a resposta certamente seria positiva se os interlocutores estivessem sob a mira de uma arma. Mulheres tiveram de se enrolar em lençóis e abandonar os quartos para a vistoria. Encerrado o tiroteio, ficamos felizes pelo fato do ladrão ter acertado somente os vidros de um carro que estava atrás de nós. Com a chegada de mais reforço, procedemos buscas em propriedades rurais da vizinhança, mas não tivemos êxito. Durante a confecção da ocorrência algumas pessoas insistiam em pedir para não serem qualificadas porque sua presença naquele local não podia ganhar publicidade. Foi uma madrugada bastante “emocionante”.
         Relutei em tratar do assunto porque envolvia a minha privacidade. Ficaria muito decepcionado comigo mesmo, no entanto, se algum(a) leitor(a) passasse por situação semelhante antes que eu o(a) tivesse cientificado dos riscos.
         Ao escolher um estabelecimento do gênero, toda pessoa deve avaliar alguns quesitos (poucos reais podem fazer enorme diferença):
         a) a opção deve recair sobre o imóvel de fácil acesso e cuja portaria permaneça devidamente iluminada;
         b) os motéis equipados com portões automatizados (na portaria e nas garagens dos apartamentos) são teoricamente mais seguros, pois as opções de acesso de estranhos são reduzidas;
         c) confira se os muros são altos o bastante para dificultar a sua escalada;
         d) as empresas que mantêm os apartamentos vazios devidamente trancados e disponibilizam as chaves na portaria, sobre o balcão, impedem que seus clientes sejam surpreendidos. As portas e janelas destrancadas favorecem que o ladrão aguarde a vítima no interior do quarto;
         e) aguardar a vaga nos boxes de espera é atitude de alto risco. Volte mais tarde ou procure outro lugar;
         f) ao chegar no local esteja com os vidros do veículo totalmente fechados e com as portas travadas;
         g) se costuma freqüentar sempre o mesmo estabelecimento, fique atento(a) à fisionomia dos empregados para detectar eventuais simulações;
         h) ao se aproximar, telefone e consulte a portaria se tudo corre bem. Se ninguém atender ou se notar que o porteiro possa estar sendo intimidado, não entre e avise a Polícia;
         i) se estiver legalmente armado(a), não deixe a arma no carro: ela pode ser furtada;
         j) se possuir telefone celular, leve-o consigo para o quarto;
         k) se já estiver no interior do quarto e notar algo errado, não tenha dúvida: se dispuser de meios, TELEFONE PARA A POLÍCIA.
         Se estiver buscando algo diferente, muita emoção, adrenalina, jogue este texto no lixo e esqueça o assunto... Eu não recomendo!
Adriano Rodrigo Ponce de Oliveira
Delegado de Polícia, Diretor da Cadeia Pública
e da 37ª Ciretran de Getulina(SP)
(publicado no Getulina Jornal de 29/6/2003)